Nos últimos anos, o Nordeste tem passado por uma verdadeira revolução silenciosa: a democratização do acesso à internet. Com investimentos públicos e privados em infraestrutura, a chegada da fibra óptica e a expansão do 5G vêm conectando comunidades antes isoladas, promovendo inclusão digital e transformando vidas em cidades e zonas rurais.
De acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), entre 2018 e 2024, o número de lares nordestinos com acesso à internet banda larga saltou de 53% para 84%. O crescimento é ainda mais expressivo em estados como o Piauí e o Maranhão, que lideraram os índices de expansão da conectividade.
Na cidade de Juazeiro do Norte (CE), a estudante Maria Luiza, de 16 anos, conseguiu uma bolsa de estudos em uma universidade dos Estados Unidos após participar de cursos de programação online. “Se não fosse a internet, eu nunca teria descoberto essas oportunidades”, diz emocionada.
Em comunidades rurais, a chegada da internet também revolucionou o ensino à distância. Escolas públicas passaram a utilizar plataformas digitais e aplicativos para manter os alunos conectados com professores, especialmente durante e após a pandemia da Covid-19.
Agricultura inteligente
No semiárido nordestino, agricultores familiares estão usando aplicativos e sensores conectados para monitorar plantações e otimizar o uso da água. Com a chamada “agricultura de precisão”, produtores como Seu João, de Petrolina (PE), conseguiram aumentar a produtividade sem ampliar os custos.
“Hoje, sei a hora certa de irrigar e posso acompanhar tudo pelo celular”, conta João, que teve sua primeira experiência com internet há apenas três anos.
O comércio online também ganhou força. Pequenos empreendedores, como artesãos, produtores de alimentos e donos de pequenos negócios, passaram a vender seus produtos pela internet, ampliando o alcance e a renda.
Segundo o Sebrae, o número de microempreendedores individuais (MEIs) que atuam no e-commerce cresceu 112% no Nordeste entre 2020 e 2024.
Desafios persistem
Apesar dos avanços, ainda há desafios. Em regiões mais remotas, a conexão é instável ou inexistente. Questões como o custo dos planos de dados, a capacitação digital da população e a desigualdade no acesso ainda precisam ser enfrentadas.
ONGs e coletivos digitais vêm tentando preencher essas lacunas, oferecendo cursos gratuitos, pontos de Wi-Fi comunitário e inclusão digital para idosos e crianças.
A revolução digital no Nordeste está longe de terminar. Com a chegada de novas tecnologias como o 6G e a inteligência artificial, especialistas afirmam que a região pode se tornar um polo de inovação e tecnologia inclusiva.
“Estamos diante de uma virada histórica. A internet não é só tecnologia: é cidadania, educação e dignidade”, afirma a pesquisadora da UFBA, Dra. Letícia Nascimento.