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Robalo do Paranoá vira manjubinha do brejo

Mesmo à beira do abismo, Jair Messias não quer sair da mídia. Por isso, insiste em continuar brincando com o país. A brincadeira da vez é a do peixe graúdo que não cai na rede. Como foi ele quem começou, achei por bem incluir no play o “gato” Xandão, cuja língua afiada está doidinha para sapecar o rabo do robalo do Lago Paranoá. Brincar é tão complexo que ajuda a criança a desenvolver suas emoções. Faça da brincadeira um hábito. Desde, é claro, que haja igualdade na forma de brincar. Zé Capetão nunca pensou assim. Era tudo para ele. Passou 28 anos no Congresso Nacional brincando de xingar a mãe dos pares, posando de machão e de misógino contra mulheres indefesas, principalmente as que ele considerava mais feias.

Ele também adorava brincar de homofóbico quando o oponente era mais frágil e de apelidar pejorativamente quem ousasse cruzar seu caminho com propostas progressistas. Fez isso com o então governador do Maranhão, o “gordinho” Flávio Dino, hoje ministro da Justiça. Messias apelidou a si mesmo de mito, mas se esqueceu de que, na filosofia, o termo também significa mentira, pegadinha e absurdo, tudo que ele foi – e é – ao extremo. Aliás, a alcunha é plenamente justificável e pra lá de merecida, na medida em que mito, duende, bruxas, saci-pererês, lobisomens e mulas sem cabeça são, assim como ele, parte do nosso folclore.

Eles só habitam a mente de brincalhões do tipo João Bobo ou de burgueses acostumados a arrotar lagosta, mas que, via de regra, se empanturram de farofa com torresmo nas feiras do Guará, em Brasília, ou de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Nada contra as iguarias. Questionável é somente o fato de elas serem escondidas do cardápio diário desses segmentos da população. Voltando às brincadeiras do Zé Capetão, uma das últimas, já como quase ex-presidente, surpreendeu os machos alfa, aqueles que só brincavam de trenzinho se fossem o último vagão. A locomotiva era destinada aos que já tinham o carburador furado. Trata-se do bizarro entretenimento de passar o anel, a joia ou o bracelete.

Graças a Deus, sempre me incluiam fora disso. Todos sabiam que anel e caneco têm a mesma conotação e, portanto, melhor deixá-los intocáveis. Alguns até topavam. Como no caso das joias das arábias, o problema foi o flagrante. Ninguém assumiu que queria ficar com o anel do outro. Coisas de quem tira da reta ao primeiro sinal de que o sheik mandou vadiar. Confesso que esse negócio de passar o anel nunca foi minha distração preferida. Gostava mesmo era de futebol, papai e mamãe, pique esconde, pipa e garrafão. Tinha uma tal de queimada que, conforme a parceria, também apetecia. Era o fogo descendo e a madeira subindo. Vez por outra, dona Palmirinha (que Deus a tenha) aparecia para apagar o incêndio.

Embora continue na rede, isto é, na mídia, o fato é que o peixe graúdo caiu no óleo quente. Hoje, o robalo do Lago Paranoá está mais para manjubinha do brejo ou baiacu do espelho d’água do Palácio do Planalto. Como prova de quem não sabe brincar, depois de doses cavalares (coitados dos animais) de morfina paraguaia, Messias já antecipou que vai culpar o coronel Bidu (o moço da vírgula na testa) e seus carregadores de mala pela falsificação dos cartões de vacina. Ou seja, tudo dentro do script traçado desde o primeiro dia de mandato: se der certo, eu sou o cara; se der errado, vocês é que vão para o cadafalso. Foi assim com Moro, Regina Duarte, Mandetta, Pazuello, Ricardo Salles, Weintraub e uma série de outros deslumbrados, entre eles os blogueiros sonhadores.

O único que brincou sério com Jair foi Xandão. Depois de tostar o rabo do peixe, o xerifão do tipo felino descabelado promete dar cabo de todos os ratos que infestavam o Planalto, incluindo os que, em decorrência de surtos psicóticos forçados, acabaram com ejaculação precoce, algo parecido com imbrochabilidade. Com o mastro da Justiça envergado sobre o processo da fraude no cartão de vacina, Xandão também mantém a clava forte, enrijecida e sedenta em cima das fakes relativas à fraude nas urnas eletrônicas. Prático em seus votos, provavelmente o ministro mais amado do STF na atualidade definirá o futuro político de Jair Messias seguindo a própria sugestão do acusado. Como o ex-presidente assumiu em depoimento que compartilhou, sem querer, um vídeo questionando o sistema eleitoral, Xandão fará o mesmo: sem querer, vai torná-lo inelegível por pelo menos oito anos. Quer brincar com meu brinco? Então, prepare a argola.

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