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Saga e sonho de portuga visionário na terra que Jair Bolsonaro sujou

Visionário e cansado da vida mundana em Portugal e no Sul do Brasil, onde aportou equivocadamente no início do século passado, meu avô Aristarco Pederneira chegou ao Rio de Janeiro disposto a mudar o que ele chamava de modus operandi da existência pervertida. Antes de se fixar na Cidade Maravilhosa, foi informado do sonho de Dom Bosco e tentou Brasília. Desistiu ao saber que, na futura Capital, já se instalava uma perigosa agremiação, a Seita Mitonaro, depois Golpenaro e, por fim, logo após a descoberta dos R$ 30 milhões em um ano, Bolsonaro, uma clara derivação de bolso.

Com o lema perca o tempo, mas não perca a mulher, o velho nunca teve medo do azar. Apesar de pouco supersticioso, “Sapo gordo, pé de pato, mangalô, três vezes” era o bordão utilizado para todo tipo de senão, principalmente unha encravada, paumolescência e corridas do marido alheio. Oriundo da pequena cidade de Trás os Montes, o velho também não levava desaforo para casa. Fosse hoje, seria conhecido nas redes sociais como alguém do riso frouxo, daquilo roxo e do homem macho no modo cangaceiro. Lembro de uma de suas hilárias histórias na primeira investida à Praia de Copacabana.

Com a inseparável cueca samba canção branca quase transparente, entrou no mar. Após 12,5 segundos, saiu esbaforido com a violência das ondas. Cueca molhada, obviamente que o bilau encharcado colou na coxa direita. Ou teria sido na esquerda? Pouco importa a ideologia do trem. O fato é que, na areia, dezenas de cariocas riam do encorpado bicho preso. Sem modéstia alguma, Aristarco reagiu e, quase colérico, perguntou: Qual a graça? O pinto de vocês não encolhe quando está molhado? Como nem sempre o touro perde, ao longo de sua saga vovô teve de engolir a ira várias vezes. Uma delas ocorreu durante a não programada visita a uma casa de saliência que não conhecia. Lá chegando, o sorridente porteiro logo perguntou se ele queria fazer ou ver.

Sempre pensando em levar vantagem, como o nosso Jair, claro que a resposta foi a primeira opção. Não gostaria de entrar nos detalhes, mas como cheguei até aqui, vamos lá. Levado pelas mãos do porteiro do puteiro, o portuga entrou no quarto escuro onde já o esperava um taludo, portentoso e enraivecido afrodescendente. Sem meias palavras, foi créu, créu e créu em várias velocidades. Pussesso da vida, vovô saiu correndo, prometendo a forra em uma nova oportunidade. Na semana seguinte, lá estava o furibundo português. À mesma pergunta, uma resposta diferente: Hoje eu não vim fazer. Hoje eu quero é ver. Coitado do velho.

O porteiro o levou para o mesmo quarto escuro e passou um vídeo tape do afrodescendente no créu, créu, créu. Vivendo entre comunistas comedores de criancinhas, padres doadores de pão com mortadela, pastores de conceitos libidinosos e ex-presidentes que viram detentos por causa do poder, Aristarco Pederneira acabou recebendo um indicativo de cura em um terreiro de macumba no subúrbio do Rio. Profundo conhecedor das maledicências da vida, mas raso na antiga, séria e ultraconservadora linguagem da umbanda, o velho portuga foi convidado a se retirar logo na primeira sessão de descarrego, também chamado de desobsessão em outras correntes das religiões de matriz africana.

De pé, diante de uma entidade feminina incorporada em uma bela morena, vovô não pensou duas vezes ao ouvir a divindade saudá-lo com o costumeiro saravá: Não precisa, dona. Pode vir suja mesmo que eu traço. Sem conseguir abandonar a vida mundana, meu avô paterno preferiu deixar que a vida o levasse. Para quem já deu até o olho da goiaba para chá, nada de anormal o familiar lusitano ter se matriculado no programa global Big Boga Brasil. Também durou pouco. Ainda vivo, dr. Roberto Marinho exigiu sua exclusão ao ouvi-lo esculhambando um dos participantes do reality show de nome Ariel. Ao mancebo, vovô disse que, caso tivesse um filho com esse nome, pediria que ele escolhesse ser homem, mulher, sereia ou sabão em pó. Mais uma vez, o véio dançou. Perdeu a chance de disputar os R$ 30 milhões de prêmio. Ariel era o principal patrocinador do Big Boga Brasil.

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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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