Neste mês de junho, o céu do Nordeste ganha um brilho especial. As estrelas parecem competir com os balões coloridos, e o cheiro de fumaça no ar não incomoda — pelo contrário, abraça. É São João chegando, e com ele, um calor que vai além do fogo das fogueiras: é o calor humano, aquele que só o Nordeste sabe acender.
Em cada rua de barro ou de paralelepípedo, surgem bandeirolas dançando com o vento, como se quisessem ensaiar para o arrasta-pé da noite. As crianças correm de um lado para o outro, estalando biribas e soltando risadas que explodem mais alto que qualquer fogos de artifício. As casas se enfeitam com simplicidade e orgulho, como quem sabe que beleza mesmo está na alma da festa.
O São João nordestino é mais que tradição — é identidade. É o momento em que o interior vira capital da alegria, em que o sanfoneiro vira rei e o milho vira ouro. Cozido, assado, em forma de canjica ou pamonha, o milho reina soberano nas mesas fartas, ladeado pelo cheiro doce de bolo de macaxeira e o som da zabumba que não deixa ninguém parado.
Na praça, o forró convida: “Vem dançar!”. E não importa se os passos estão enferrujados ou se a bota aperta — o corpo vai, puxado pelo coração. Ali, nos braços de um xote apertado, se esquece da pressa e se lembra do que importa: estar junto, sorrir, celebrar.
As fogueiras crepitam como se contassem histórias. E contam mesmo. Falam dos tempos antigos, das promessas feitas a Santo Antônio, dos pedidos ao São João, das chuvas esperadas para o roçado. O fogo esquenta não só as noites frias, mas também as memórias — e aquece até quem vem de longe, fazendo do Nordeste lar por alguns dias.
Porque é isso que o São João faz: transforma ruas em salões, comidas simples em banquetes, e o coração de quem vive aqui em abrigo para quem chega. No Nordeste, São João não é apenas festa — é a forma mais bonita de dizer: “Se achegue. Aqui, sempre cabe mais um.”
