Notibras

Saúde pública vira fake no país do faz de conta

Não é com alegria ou prazer que escrevo dia sim outro não sobre as mazelas produzidas pelo governo federal, notadamente na área de saúde. Certamente não agrada a ninguém repassar mesmices sem fundamentação, muito menos mostrar que é fake o que diariamente é mostrado como fato. É a prova de que não há de novo para ser apresentado à nação, que vive hoje uma situação de mais do mesmo, isto é, todos os dias são iguais aos da semana, do mês, do ano passado. A única coisa real na atualidade nacional e que, infelizmente, muda a cada 24 horas, são os números da pandemia. E contra eles apenas negativas, palavrões e fakes.

Pelo décimo oitavo dia seguido, o Brasil, novo epicentro mundial da doença, atingiu na terça (16) novo recorde no quantitativo de mortes. Foram 2.798 óbitos em apenas 24 horas. Essa montanha de corpos não alterou o modus operandis, tampouco a forma jocosa e debochada do presidente da República da República e de apoiadores no tratamento da doença. Parece que a conta não é de sua responsabilidade. Tanto que, mesmo depois do fracasso retumbante da cloroquina e da tubaína, ele insiste em enfrentar a Covid-19 brigando com prefeitos e governadores, principalmente com aqueles que avalia como prováveis adversários em 2022.

No país de fantasia da família Bolsonaro e da trupe bolsonarista, sai ministro, entra ministro e nada de solução. Pelo contrário. Só delírios, utopias, quimeras, mansões e empresas a rodo. As brincadeiras, pilhérias e desatinos continuam. A sorte dos brasileiros virá dos céus, talvez da espiritualidade, que diariamente nos ensina que não há mal que dure para sempre. Nessa máxima está incluído, além da pandemia que nos assola, o governo que nos esfola. A última brincadeirinha foi a indicação de um novo ministro para tentar tirar a saúde do buraco.

Quando o país entendia que qualquer aventureiro seria melhor do que o general Eduardo Pazuello no comando da pasta, eis que surge um médico renomado, com discursos contrários às bobagens propagadas pelo governo, entre elas a cloroquina e a desnecessidade do uso da máscara. O sonho voltou a ser pesadelo na primeira aparição de Queiroga como ministro indicado. Apesar de não retirar o que disse na academia, frustrou o povo sonhador ao afirmar que sua função será a de seguidor das ordens do capitão, as quais nunca foram em defesa da vida. Ou seja, o cardiologista ainda não é fake, mas dificilmente se livrará dessa pecha.

Antes do troca-troca ministerial ilusório, vale relembrar a “viagem” de uma robusta comitiva para tentar “vender” para Israel uma vacina “produzida” no Brasil. Por meio de um vídeo gravado pela assessoria do Palácio do Planalto, um técnico do Ministério da Saúde informava ao presidente da República, na Base Aérea de Brasília, a razão da visita ao país de Benjamin Netanyahu, que, naquela altura, havia vacinado quase 60% de seus comandados, isto é, não tinha necessidade da suposta vacina brasileira. Mais um dos devaneios pagos com dinheiro público e comandado por autoridades com passaporte diplomático.

Líder da turma de rebeldes que acham que a máscara não serve para nada, o chanceler Ernesto Araújo desembarcou em Tel Aviv achando que estava em terreiro brasileiro. Naqueles tempos ele já dizia que a esquerda está se esforçando para prejudicar a imagem do Brasil no exterior, mas, no primeiro contato com o governo israelense fez questão de esconder a máscara no bolso, de modo a mostrar como tratam o vírus no Brasil. Foi repreendido publicamente e ao vivo por seu colega judeu. O mundo inteiro viu como nossas autoridades ignoram solenemente a pandemia.

Foi nessa desnecessária e cara “viagem” que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) determinou o “rabo” como local ideal para jornalistas e a maioria dos verdadeiros patriotas enfiarem a máscara. É o filho 03, é o nosso governo. Nada de mais para uma nação que um dia ficou mundialmente conhecida por um país pouco sério. Na época, ninguém respondeu a Charles de Gaulle nem agora ao 03. Entretanto, certamente todos lembraram de uma história estrelada pelo falecido cantor norte-americano Frank Sinatra. De certa feita, Sinatra comparou determinado segmento à prostituição.

Denunciado e condenado a se retratar, pediu desculpas às prostitutas. Tudo a ver com os desvarios oficiais do governo, do governante dos apoiadores e agora do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), para quem a situação do país é “até confortável”. Além desses posicionamentos fora da curva, protagonizaram outros papéis ridículos, como bajular Donald Trump à exaustão, criticar o imunizante chinês e defender com a pólvora disponível a vacina inglesa, ainda que nunca tenham imaginado que ela (a vacina) é produzida com insumos oriundos da China. É como diz há anos o filósofo Cumpadi Washington: “Sabe de nada, inocente”.

*Wenceslau Araújo é jornalista

Sair da versão mobile