Humildemente tomo emprestado o título da obra de Gabriel García Márquez para falar sobre um certo general brasileiro, condenado e preso por tentativa de golpe de Estado, algo completamente inédito e inimaginável há menos de uma década. Não que o referido general tenha a grandeza do personagem de García Márquez, pelo contrário.
A razão pela qual tomo emprestado o título desta obra fantástica reside na constatação da condição que acomete portadores de Alzheimer, que em função da demência enclausuram-se em seu mundo limitado, o que torna extremamente difícil perceber o mundo a volta de si. E metaforicamente ao enclausuramento do general em sua própria rede de verdades e mentiras.
Digo isto porque, incrivelmente, ou espantosamente, o general Augusto Heleno, outrora poderosíssimo ministro de Bolsonaro, revelou que é portador de Alzheimer deste 2018, ano da eleição desse para a Presidência da República. Esta revelação deixa claro que o referido ocupou um ministério de imensa sensibilidade e responsabilidade sendo portador de uma enfermidade que pode perturbar o juízo de forma indelével.
García Márquez é expoente maior do realismo fantástico. Mas a situação real que ocorreu no Brasil do governo Bolsonaro supera o fantástico, devido, dentre outras coisas, ao absolutamente inusitado da situação. Heleno, com Alzheimer e todas as decorrências desta enfermidade, ocupou um dos cargos mais importantes e sensíveis da República, posto que dava ao titular o poder sobre o serviço de inteligência brasileiro e a segurança institucional do Estado.
Daí a imaginar que o Brasil teve sua segurança institucional sob a regência de alguém que portava uma patologia que o impedia de ter juízo perfeito, e que colocava suas decisões sob absoluto risco, é de uma imensa preocupação. Sorte teve o Brasil de não ter se colocado em situação mais esdrúxula e vexatória do que ocorreu naquele governo em face da possível demência de um dos ministros mais próximos daquele presidente.
O grau de irresponsabilidade daquela turma ultrapassa as raias do absurdo. Um país da dimensão do Brasil, um dos maiores PIB’s do mundo, extensão territorial e população gigantescas, e sede da maior e mais importante floresta tropical, teve sua segurança institucional à mercê de alguém fora do juízo perfeito, e que poderia causar danos incomensuráveis face a possíveis decisões tomadas sob as condições que o próprio revelou recentemente.
A extrema direita avança no mundo inteiro, é uma pena e um perigo imenso para o planeta, mas o que aconteceu no Brasil no fatídico e famigerado governo Bolsonaro ultrapassou o risco do extremismo. Foi a irresponsabilidade, a falta de ética, e o desrespeito pelo país e pelo seu povo levado ao extremo.
Ter um ministro demente, e numa área tão sensível e importante como a que o general ocupou é o suprassumo da esquizofrenia do governo Bolsonaro. A não ser que o tal general esteja mentindo e usando esta farsa somente para se livrar da justa cadeia pelos crimes cometidos contra a nação.
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Antônio Eustáquio, correspondente de Notibras na Europa, está sempre atento aos fatos do Brasil
