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Se o mundo tem fiofó, fica na parte brasileira onde mora o capetão

Para os poetas líricos, para os intelectuais, os artistas e, sobretudo, para os autores de novelas, o Brasil é o Éden. É aquela história de que, em se plantando, tudo dá. O problema é plantar. Fora o ufanismo poético de que “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá”, de que “Moro num país tropical, abençoado por Deus” ou que o Brasil “…é o pulmão de minha alma”, ainda estamos a milhares de anos luz do paraíso terrestre. É verdade que, na terra do Carnaval, cada dia é uma festa. Também é verdade que o Brasil é o lugar onde até a saudade é cheia de bossa nova e poesia.

Mentira é afirmar que, associadas à alegria e qualidades do povo, “nossas verdes matas, cachoeiras e cascatas de colorido sutil e este lindo céu azul de anil que emolduram em aquarela o meu Brasil” conseguem superar as mazelas nacionais, algumas geradas pelos próprios brasileiros. A principal delas é transformar cidadãos e cidadãs sem eira e nem beira em deputados e senadores de ponta.  Então, já que somos alegres, o que está faltando para que sejamos felizes? Confesso que tive de abrir a geladeira e o freezer para tentar encontrar a resposta. Não encontrei.

No compasso do samba, meu coração bate forte pelo Brasil. Como não amar uma terra única e capaz de produzir o que não há em lugar algum do mundo. Só nós temos a jabuticaba, o pequi, o cupuaçu, o pão de queijo, o brigadeiro, a caipirinha, a cachaça, a feijoada e a urna eletrônica. Sem juízo de valor, também temos Jair Bolsonaro, Lula da Silva, Alexandre de Moraes e Luiz Fux, cada qual no seu quadrado. O melhor de tudo é o nosso jeitinho, maneira simplória, criativa e improvisada de lidar com imprevistos. O pior é que temos os piores políticos do globo terrestre e uma população que, quando acuada, é capaz de jogar contra si mesma.

Será que salgamos a Santa Ceia? Será que picamos salsinha na tábua dos dez mandamentos? Não sei, mas acredito sinceramente que jogamos pedra na cruz. Com todo respeito àqueles que pensam diferente, mas nem todas as criaturas do Brasil mudaram. Aliás, quem acredita numa mudança repentina das pessoas é transportadora. Enfim, mesmo gigante pela própria natureza, infelizmente o amor de todos pelo Brasil não é tão vasto como suas terras. Considerando os políticos e a turma de falsos patriotas que temos, o Haiti e o inferno são aqui. Eis a razão pela qual a maioria dos endinheirados acha que, se o mundo tem fiofó, o fiofó do mundo é o Brasil.

Faz tempo que boa parte deles foge para odiar publicamente a pátria. Embora seja o novo camisa 10 da campanha do presidente Lula, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho 03 do ex-presidente denominado mito, é o protótipo de Odete Roitman, representante óbvia dessa elite vilã. Ele é o maior exemplo de que por aqui não há meio termo. Fugitivo, 03 e seus asseclas do PL não escondem que para eles só existem duas alternativas: ou Jair volta ao poder ou a fronteira entre a tirania e a democracia será um eterno inferno. O lado bom da praga de Dudu do Hambúrguer e dos deputados do partido de Valdemar Costa Neto é que, entre os verdadeiros patriotas, tudo termina em samba, suor, cerveja e, se deixarem, em saliência.

Somos um povo acostumado a pragas e a viver entre o céu e o inferno sem perder o equilíbrio. Para nossa sorte, depois das bravatas do clã Bolsonaro e da química entre Lula e Donald Trump, o inferno brasileiro virou uma comédia ou o melhor do mundo. Todo dia falta alguma coisa. Um dia o diabo está entre nós, no outro ele some. Quando ele reaparece, não tem caldeirão, chicote e nem fósforo para acender a fogueira. Quando temos tudo, já é quase o dia de escolher um novo presidente. Pelo sim, pelo não, meu caro deputado de quinta, se chorei ou se sorri, o importante é que sua opinião eu não pedi. O que posso lhe dizer é que não importa se vou para o céu ou para o inferno. Tenho amigos nos dois lugares.

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Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

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