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Senhor da razão, tempo ensina a voar com ele nessa vida que é danada

O mundo ser modernizou tão rápido que, em breve, faltarão pessoas para lembrar o que já foi bom e as pessoas que fizeram história. Provavelmente, a maioria se lembrará apenas do embuste da polarização entre esquerda e extrema-direita, da traição de Eduardo Bolsonaro, da prisão de Jair Messias e da inoxidável e inquebrantável química entre Lula e Donald Trump e que acabou gerando uma execrável derrota para Dudu 03. E lembrar que tudo começou com um fortuito aperto de mão. São coisas que a ciência, a Nasa e a Justiça Eleitoral não explicam. É a danada da vida.

É ela que nos leva e traz daqui para lá e de lá para cá, nos obriga a contar o tempo e, principalmente, a não perder tempo. Às vezes, nem percebemos que o tempo existe. A gente se acostumou a achar que a vida nos garante tempo para tudo. Não é verdade. Na verdade, é a maior das mentiras. Se puder ajudar, o que posso dizer é simples: não deixe nada para depois, porque não dá tempo. Todos nós conhecemos alguém que um dia deixou alguma coisa para depois e, quando pode, não tinha mais como fazê-la.

Uma ligação que não fez, um perdão que não deu, um abraço que adiou, um beijo que deixou para amanhã ou depois de amanhã. Sempre achando que tinha tempo ainda. O que nos faz vencer na vida é o propósito, a entrega, é a dor transformada em elo, em unidade. A Bíblia chama isso de “Vasos de Barro”, o qual contêm um tesouro invisível. Nossa força não vem da aparência daquele vaso. Ela vem de um lugar mais fundo, vem de Deus.

Portanto, a ordem de cima é para que recuperemos com graça e com vontade o que perdemos, mas não deixemos nada para depois. Há entre nós pessoas que choram por saber que as rosas têm espinhos. Outras, porém, sorriem por saber que os espinhos têm rosas. Desconheço a autoria deste pensamento, mas ajo como se ele tivesse sido escrito para mim. Enfim, como escrevem nossos poetas contemporâneos, “ninguém é o que parece ou o que aparece. O essencial não há quem enxergue”.

Pobres dos soberbos e da juventude descartável. Como dispõem de mais titica na cabeça do que conexões cerebrais, esses raramente percebem que chega um tempo em que a vida é uma prescrição. Para eles, os bons tempos e os velhos amigos são de somenos importância diante das novidades da tecnologia e dos companheiros de agora. Felizmente, o mundo é uma bola. Para uns, ele gira sobrevoando a passarela das ilusões. Para outros, anuncia sem rodeios a hora da partida. E essa chega quando a gente não espera.

É claro que, ao longo da vida, já chorei, já sorri e saudades eu senti. O que jamais fiz foi lembrar do tempo que não utilizei. Nunca desperdicei minhas horas e meus dias me queixando de que a vida é breve. Sempre reduzindo as ilusões a pó, dormia e acordava baseado na máxima de Paulo Leminski, para quem haja hoje para tanto ontem. Como senhor da razão, o tempo voa. Por isso, precisamos aprender a voar com ele. É o que faço. Não tenho pressa, mas não perco tempo. Às vésperas de 2026, vale lembrar que o tempo do medo já aconteceu. A partir de outubro do ano que vem recomeça o tempo da esperança. Tomara que, sem Jair, Eduardo e afins, seja o tempo da reconciliação.

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Heliodoro Quaresma, jornalista da velha guarda, trocou a aposentadoria para emprestar seus escritos a Notibras

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