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‘Ser aliado de Trump é bom, mas subalterno, não’

Foto/Arquivo Notibras

Os sinais de uma política externa “altamente ideológica” dados pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, que se encontrará nesta terça-feira, 19, com seu colega americano, Donald Trump, podem afastar o Brasil de outras nações e ser “profundamente negativos” para os interesses do país.

Essa é a visão do embaixador aposentado Roberto Abdenur, que comandou a embaixada brasileira nos Estados Unidos de 2004 a 2006 e deixou o Itamaraty por discordâncias com a política externa do então presidente Luiz Inácio da Silva.

Ao desembarcar nos EUA no domingo para uma visita de três dias, Bolsonaro tuitou que “pela primeira vez em muito tempo, um Presidente brasileiro que não é antiamericano chega a Washington”, mas para Abdenur, o que distingue a visita de viagens oficiais de presidentes anteriores é o risco de um “alinhamento automático, rígido” do Brasil aos interesses americanos.

“Paradoxalmente, o governo Bolsonaro, que tanto insiste na defesa da soberania do Brasil, está afetando, prejudicando essa soberania, se decidir alinhar-se incondicionalmente com os Estados Unidos no campo da política internacional. Eu vejo com preocupação o risco de que isso ocorra”, afirmou Abdenur.

O diplomata, que iniciou sua carreira no Itamaraty em 1963 e chefiou também as embaixadas do Brasil no Equador, Alemanha e China, critica, também, a “atitude radicalmente simpática aos Estados Unidos” do chanceler Ernesto Araújo.

“Eu temo muito que o presidente acabe, sem se dar conta disso, talvez sem querer, se colocando numa postura subalterna ao Trump. Eu espero que isso não ocorra, mas é uma hipótese que não pode der descartada”, disse.

Embora Abdenur veja possíveis ganhos para o Brasil na esfera econômica a partir da maior aproximação com os Estados Unidos, ele vê um grande risco caso Bolsonaro decida se alinhar aos interesses de Trump contra a China.

O embaixador não se opôs à polêmica decisão do governo brasileiro de isentar unilateralmente os turistas americanos de visto para entrada no Brasil, mas repudiou declarações do deputado federal e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, manifestando vergonha pelos imigrantes brasileiros que vivem ilegalmente nos Estados Unidos.

“Essa declaração é inaceitável, é desrespeitosa para com compatriotas nossos que têm buscado no exterior há décadas oportunidades que não tiveram no Brasil”, ressaltou.

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