Já se foi o tempo em que direita e esquerda conviviam pacificamente em qualquer lugar do mundo. Bastou a política virar profissão rentável para que o conceito de orientação ideológica se transformasse em guerra de facções. No século passado, a diferença entre uma e outra era somente quanto à abordagem em relação à igualdade social. Enquanto a esquerda defendia (e defende) maior intervenção estatal para promover igualdade, a direita priorizava (e prioriza) a liberdade individual e a preservação das tradições, mesmo que isso resulte em desigualdades.
Originárias da Revolução Francesa de 1789, ambas se organizam conforme suas visões políticas. De um lado, os progressistas atuam como promotores de mudanças radicais. Como contraponto, os conservadores lutam pela manutenção do status quo social, político, cultural e econômico. Ou seja, o que está ruim nunca pode ficar bom. Em síntese, qualquer mudança incomoda o conservadorismo, cuja mente doentia e tacanha taxa de comunista todos aqueles que trabalham pela melhoria do povo e do país.
Obviamente que melhorar o Brasil não significa manter o governo federal como a vaca de tetas gordas para suprir toda a população. Acabou a ideia getulista de que o Estado é o pai de todos. Não comungo da tese dos brasileiros que ainda acham que reduzir o Estado é coisa do demônio. Pelo contrário. Defendo a versão de que nada desvaloriza mais uma estatal do que uma gestão feita por políticos, com políticos e para os políticos. Minha discordância é justamente com o modus operandi da direita.
Ao mesmo tempo em que querem um Estado enxuto e barato, seus representantes brigam ferozmente por cargos nos primeiros e segundos escalões dos executivos federal, estadual e municipal. Santa incoerência. Quem são esses? Comunistas, anticomunistas ou simplesmente oportunistas. Além de desproposital e descabida, a adjetivação é a prova do desaculturamento daqueles que optam pelo atraso. De forma bem didática, os pensadores distinguem objetivamente os comunistas dos anticomunistas.
Os primeiros são as pessoas que apenas leem Karl Marx, Friedrich Engels, Bhaskar Sunkara e Vladimir Ilyich Ulianov, mais conhecido pelo pseudônimo Lenin. De acordo com os mesmos pensadores, os reacionários ou anticomunista são os que buscam entender Marx, Engels, Sunkara e Lenin. Portanto, ser ou não ser, eis a questão. Leigo como filósofo, mas sábio como cidadão, costumo dizer que o modo comunista e a opção anticomunista dependem exclusivamente da ocasião. É ela que produz o cidadão.
Por exemplo, os deputados e senadores de uma corrente ideológica recentemente rejeitaram tributar os ricos em 12%. No entanto, mantiveram inalterado o percentual de 27,5% no contracheque de quem ganha acima de R$ 5 mil. Nesse caso, qual categoria merece o Nobel da cara de pau? Certamente não seria o contribuinte que trabalha para o governo sem a necessidade de prestar concurso. Como na política só a ingenuidade do eleitor e a desonestidade dos políticos são imutáveis, cada vez mais me convenço de que os anticomunas um dia foram comunas e que os comunistas sonham com o dia em que se apresentarão como anticomunistas. Enfim, é tudo uma questão de oportunidade.
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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais
