Sérgio era desses homens que pareciam feitos do mesmo material da costa. Sempre firme, de pele salgada e sorriso doce, resistente ao tempo. Beirando os 50 anos, carregava nos ombros largos não apenas o bar e restaurante Rota da Costa, mas um jeito silencioso de sustentar o mundo ao redor. Quem chegava à Praia de Itapuama sabia que ali, entre o mar e a calçada, havia um ponto de equilíbrio. Havia Sérgio.
O Rota da Costa não era só um endereço. Era uma extensão do dono. O balcão sempre limpo, a geladeira abastecida, o sorriso contido — quase tímido — e aquela atenção que não precisava de alarde. À noite, quando a lua se deitava sobre o mar e a música ao vivo começava a preencher os vazios, Sérgio observava tudo com o olhar de quem já tinha visto muita coisa, mas ainda se emocionava com as coisas simples. Um acorde bem tirado, uma mesa rindo alto, um casal de mãos dadas olhando o escuro do oceano.
Ele não falava muito de si. Preferia ouvir. Sabia dos problemas dos outros, das alegrias pequenas, das dores grandes. Era rochedo por isso. Sempre firme para que os outros encostassem. Quantas histórias ficaram apoiadas naquele balcão de madeira, quantas confidências se misturaram ao cheiro de peixe frito e à maresia?
E então, como o destino gosta de surpreender até os mais fortes, Sérgio partiu. Não houve alarde, não houve tempestade. A morte chegou como maré morta, suave, quase respeitosa. Levou-o sem quebrar ondas, sem ventos fortes, como se soubesse que aquele homem pertencia ao silêncio profundo do mar.
Itapuama acordou diferente. O bar ficou ali, de portas fechadas por um instante que pareceu longo demais. A praia, acostumada à presença constante daquele guardião discreto, sentiu falta. Porque algumas pessoas não fazem barulho quando chegam; simplesmente deixam um vazio imenso quando vão.
Sérgio permanece. No banco de madeira que range ao sentar, na música que ainda ecoa nas noites claras, no copo servido com cuidado, no jeito simples de acolher. Ele fica na memória dos amigos, dos clientes, dos que chamavam pelo nome e dos que só o conheciam de vista, mas confiavam.
Amigo, rochedo, homem do mar. Que as ondas de Itapuama sigam te embalando, agora do outro lado da costa. E que cada lua cheia seja também um brinde silencioso à tua presença, sempre firme, serena e eterna.
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José Seabra é Diretor da Sucursal Regional Nordeste de Notibras
