Notibras

Sertão não virou mar, mas guarda na memória as letras de Euclides da Cunha

O Nordeste que Euclides da Cunha descreveu em Os Sertões não é apenas cenário de guerras e secas, mas um retrato vivo de um povo que teima em existir. Entre o chão rachado e o céu de fogo, ele viu mais que miséria: enxergou resistência.

Naquele sertão que parecia terra morta, a vida se escondia nas raízes profundas da caatinga, nos mandacarus que guardam água em silêncio, nas veredas estreitas que o homem abre com o facão. E, sobretudo, no próprio sertanejo, que Euclides eternizou como “antes de tudo, um forte”.

Essa força não é só a do corpo que suporta a fome ou a sede. É também a da alma que canta, reza, luta e sonha, mesmo quando o mundo insiste em negar-lhe tudo. No sertão, a tragédia de Canudos mostrou a dureza da terra e a dureza da História, mas também revelou que há no Nordeste um espírito que não se dobra.

Hoje, o Nordeste ainda guarda essa contradição: a paisagem árida, mas fértil de cultura; o chão seco, mas encharcado de memória; a pobreza material, mas a riqueza imensa de humanidade. O que Euclides registrou em páginas densas continua ecoando: o sertão é a metáfora do Brasil.

No fim, entre a pedra e o sol, o sertanejo continua sendo a síntese: sobrevivente e poeta, sofredor e risonho, raiz que não se arranca. O Nordeste, como o sertão de Euclides, é muito mais do que geografia — é destino.

Sair da versão mobile