Em seus estertores, 2025 deve acabar como o ano mais quente da história do país. Muito mais do que climática, a quentura que se transformou em fervura vem do Congresso Nacional, mais especificamente da Câmara dos Deputados, onde vivem encastelados 513 senhores acostumados a confundir os termos servir e se servir. Craque no quesito falta de decoro parlamentar, boa parte das excelências, independentemente de que marchem à direita ou à esquerda, parece estar até o pote de mágoa do pobre eleitor.
Digo isso porque, um dia sim e outro também, os moços que dizem representar o povo tomam decisões claramente inconstitucionais e que normalmente vão de encontro às opiniões e aos anseios daqueles que os elegeram. E fazem isso sem qualquer constrangimento. Por isso, com raras exceções, são tão odiados. Ao produzir uma consulta rápida e informal em uma dessas padarias de grife tive a certeza de que, além de decepcionante, a atuação dos parlamentares desta legislatura é vergonhosa.
Noite após noite, deputados envolvidos em crime e visivelmente sem decoro para o cargo são premiados. Sem regras morais e de coletividade, as excelências realmente não estão nem aí para a pecha de piores congressistas da história centenária do Congresso Nacional. Inoperantes, corporativistas e adeptos da tese de que o crime compensa, aproximadamente dois terços da putada tiveram de dar nó nas tripas para aprovar um projeto para redução das penas de terroristas presos pela barbárie de 8 de janeiro de 2023.
Navegando contra a maré e deliberadamente agindo como capachos de uma corriola que, felizmente, está longe do poder, os camaradas da cara de pau e do rabo preso incluíram no mesmo balaio da patifaria a tentativa de livrar da cassação uma deputada condenada e com decisão transitada em julgado. Não conseguiram por causa da pronta e oportuna atuação do ministro do STF Alexandre de Moraes, odiado por dez entre dez congressistas ligados à seita bolsonarista exclusivamente pela sua coragem em defesa das leis.
O que mais a população brasileira precisa ver para se convencer de que a maioria da Câmara dos Deputados é incompatível com as regras sociais, principalmente com a civilidade exigida dos homens públicos? O que mais os deputados – e alguns senadores – têm de fazer contra a sociedade para que nós, os eleitores, nos conscientizemos da irresponsabilidade pública e do pouco caso com a representação democrática desses desavergonhados senhores? O que nos impede de reagir? Seria a exacerbação de nosso conhecido complexo de vira-latas?
Como a cigana leu o meu destino, seja lá o que for, que passe logo, sob pena de também passarmos para a longa história política como os piores eleitores que o Brasil já teve. Convenhamos que será um título merecido. Afinal, como diz o velho ditado, quem não tem competência não se estabelece. Em outras palavras, se não temos nenhuma vontade de aprender a votar, que pelo menos respeitemos o desejo dos que estão cansados de serem vistos como palhaços de um circo de lona amundiçada e recheado de homens e mulheres cuja mágica mais comum é se locupletar na calada da noite para, entre outras ações criminosas, esconder nos arquivos pessoais o que afanam indecorosamente do contribuinte brasileiro.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
