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Startups e ciência colocam o Estado no radar da inovação

Conhecido mundialmente por sua cultura popular e pelo peso histórico na formação do Brasil, Pernambuco se reinventa e assume um novo papel: o de protagonista na agenda da inovação tecnológica. O estado nordestino desponta como referência em ciência, startups e economia criativa, reunindo iniciativas que conectam universidades, empresas e governo em busca de soluções para os desafios do século 21.

No coração do Recife Antigo, casarões históricos dividem espaço com empresas de tecnologia, coworkings e centros de pesquisa. É ali que surgiu, no ano 2000, o Porto Digital, hoje considerado um dos maiores parques tecnológicos da América Latina.

Com mais de 400 empresas instaladas e cerca de 14 mil profissionais empregados, o polo é responsável por movimentar mais de R$ 3 bilhões por ano em negócios de tecnologia. Além de abrigar startups, também atrai grandes companhias nacionais e internacionais interessadas no ecossistema inovador.

“O Porto Digital é um símbolo da capacidade de Pernambuco de se reinventar. Transformamos um centro histórico em um hub de inovação que conecta tradição e futuro”, afirma Pierre Lucena, presidente do parque tecnológico.

Se no Recife o polo tecnológico já está consolidado, no interior do estado o movimento ganha força. Em Caruaru, projetos voltados à economia criativa atraem jovens empreendedores. Em Petrolina, o foco recai sobre o agronegócio e a irrigação sustentável, aproveitando a vocação da região para a fruticultura.

Segundo a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação de Pernambuco, já existem mais de 20 núcleos de inovação espalhados pelo interior, conectados a universidades e institutos federais. “O desafio é descentralizar as oportunidades, levando a tecnologia para além da capital”, explica a secretária Luciana Santos.

Entre os casos de sucesso, a Salus, startup de saúde digital criada por pesquisadores pernambucanos, desenvolveu uma plataforma de telemedicina que já atende milhares de pacientes em todo o Nordeste. Outro exemplo é a In Loco, especializada em soluções de geolocalização, que nasceu no Porto Digital e expandiu sua atuação para os Estados Unidos.

“O que vemos é a transformação de boas ideias em negócios globais, sem perder a raiz pernambucana”, afirma a empreendedora Mariana Albuquerque, CEO da Salus.

A força da inovação no estado está diretamente ligada às universidades. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), referência em tecnologia da informação, mantém um dos centros de informática mais respeitados da América Latina. Já a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) lidera pesquisas em biotecnologia e sustentabilidade aplicadas ao campo.

“Nosso papel é gerar conhecimento científico de ponta e transferi-lo para a sociedade. Pernambuco entendeu que ciência e inovação devem caminhar juntas”, diz o professor José Carlos, do Centro de Informática da UFPE.

Apesar dos avanços, especialistas alertam que ainda há desafios importantes: garantir maior volume de investimentos privados, reduzir a burocracia e ampliar a formação de mão de obra qualificada. Outro ponto crítico é a necessidade de evitar que a inovação fique restrita às capitais, deixando de fora jovens do interior e das periferias.

“O risco é criar uma ilha de prosperidade em meio a um oceano de desigualdade. A tecnologia precisa chegar a todos”, adverte o sociólogo Carlos Moura.

Mesmo diante dos obstáculos, Pernambuco já aparece em relatórios nacionais e internacionais como destaque em inovação fora do eixo Sul-Sudeste. No ano de 2024, o estado foi listado pelo Startup Ecosystem Report como um dos mais promissores ambientes de empreendedorismo tecnológico da América Latina.

Ao mesmo tempo em que preserva suas tradições culturais, Pernambuco projeta-se como protagonista da economia do futuro. Ciência, tecnologia e empreendedorismo agora dividem espaço com frevo, maracatu e forró, compondo um retrato de um estado em plena transformação.

“Estamos construindo um ecossistema sólido, que alia identidade cultural à inovação. Pernambuco prova que é possível ser criativo no carnaval e competitivo na ciência”, conclui a secretária Luciana Santos.

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