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Tarifaço obriga interventor e aliados colher mandioca

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante encontro com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca, em Washington (EUA).

O Brasil da bandalheira política e da roubalheira a céu aberto é o mesmo Brasil da família que se uniu aos mercenários para levar a economia nacional à lona e, por consequência, minar as resistências do povo. Curiosamente, esses dois Brasis não diferem daquele em que a ladroagem faz questão de repetir Pero Vaz de Caminha na afirmação de que, extremamente férteis, nas terras brasileiras em se plantando, tudo dá. A carta de Caminha ao rei de Portugal, Dom Manuel, é um documento histórico. Passados 525 anos, plantar no Brasil é o menor dos problemas. O maior é que só eles, os tubarões, colhem.

No Brasil, onde a maioria da população trabalha para comer, o texto do escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral deve ser considerado um acinte para o dia a dia do povo na metade desta segunda década do século 21. Basta uma rápida viagem mental pelas cinco regiões do país para se perceber que a história do trabalhador, notadamente o rural, é pautada por desafios diários em busca de uma vida melhor. E cada amanhecer é um novo desafio. É debaixo de sol que o plantador sobrevive e transforma seu suor em poesia.

E não importa que quem carrega o piano da economia seja de direita ou de esquerda. Ter isenção política e horror à ideologia do ódio são itens suficientes para que qualquer cidadão seja avaliado como comunista por aqueles com inteligência de ameba. Reclamar ou falar a verdade, nem pensar. Em tempos de engano universal, reagir contra os lobos vestidos de carneiro logo se transforma em um ato revolucionário. Além do tarifaço de 50% sobre toda a produção exportada, a punição pode se estender à inclusão desse trabalhador aos novos campos de concentração criados pelo mandatário norte-americano que afirma ter assumido o controle do mundo.

Fossem no Brasil, esses campos seriam construídos em áreas remotas, sem comunicação e direitos básicos. Provavelmente, o interventor republicano batizaria a nova comunidade de Aquidauanus, algo similar à desonra física vivida pelos palestinos na Faixa de Gaza. Força que sustenta um dos maiores escárnios da atual política nacional, o agronegócio não reage, pois ainda não descobriu que de nada valem as ideias mirabolantes sem homens capazes de pô-las em prática. Por razões exclusivamente de poder, uma determinada família, com apoio do tal interventor externo, quer deixar os pequenos produtores e nossos trabalhadores à míngua.

Se possível, matariam todos de fome, como seu líder fez durante a pandemia de Covid-19. Tudo a ver com a máxima de que Jesus faz milagres e doa, enquanto o homem tenta vender os milagres que não faz. Na cola dos fanáticos representados por Nikolas, o garoto propaganda daquele clã que vive para o poder, os loucos não percebem que todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros. Certamente a riqueza do solo brasileiro estimulou Pero Vaz de Caminha, da mesma forma que vem estimulando o interventor a negociar nossas terras raras em troca do tarifaço. Não sei se já lhe disseram, mas as terras raras, o café, o alumínio, as laranjas e os demais minérios são produtos nacionais legítimos. No popular, é tudo coisa nossa.

Qualquer negociação deve obrigar o republicano a esquecer o prodígio brasileiro que defende no lugar para onde ele irá em breve. Aos que se arvoram no apoio público ao suposto dono do mundo, vale lembrar que, na vida, o plantio é opcional. A colheita, porém, é obrigatória. Por isso, tomemos cuidado com o que vamos plantar, porque o que plantarmos é o que iremos colher. Se apostam no chumbo, é pelo chumbo grosso que serão chumbados. Como jamais apoiaremos campos de concentração no Brasil, sugiro aos basbaques que idolatram corvos e lobos do deserto que fiquem onde estão, esqueçam que já foram brasileiros e não voltem nunca mais, sob pena de serem eles os primeiros a colher mandioca, nabo, pepino, cenoura e rabanete em Aquidauanus. Está dado o recado.

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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais

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