Em um país de bizarrices e de comicidades até nos templos religiosos, nos quais o prazer é destruir o que não é igual a eles, não há razão para ser sério. Portanto, quando perceber que estão batendo palmas, bata também, mesmo não sabendo para o que ou para quem é. Na dúvida, oremos, pois os espíritos malignos insistem em perambular como entidades errantes e politicamente incorretas pelo Congresso Nacional e, agora, pela Casa Branca. Para bom entendedor, meia palavra basta. Entretanto, como conheço um pouquinho do meu Brasil com Z, nunca é demais ser explícito para aqueles que ainda comem com galfo, barrem a casa, dibram os pobremas, almoça pão com mortandela e iorgute e fazem a cesta na tauba.
Refiro-me aos que apoiam o tarifaço que, a pedido do clã Bolsonaro, Donald Trump prometeu para hoje (06) e que usam a tragédia diária como forma de vida supostamente eterna. Por isso, não aceitam a morte política e, como um encosto vacilante, choram o leite derramado e diuturnamente lutam para não abandonar um corpo perdido que nem o Diabo quer receber. Como um cachorro que corre atrás do rabo, reúne seus simpatizantes para encontros regionais, nos mesmos moldes do chá das cinco da Academia Brasileira de Letras, definida por Millôr Fernandes como uma reunião de quase quatro dezenas de membros e um morto rotativo.
Embora tenha perdido a esperança, não custa lembrar mais uma vez ao povo da bandeira enrolada no pescoço que verba mollia et eficácia, isto é, as boas palavras custam pouco e valem muito. Diria mais: Fallitur visio, o mesmo que as aparências enganam. Diria, mas não digo por que é chover no molhado. Se o fizer, talvez me respondam com aquele provérbio que nenhum integrante da Confraria do Morro do Peru Molhado gostaria de ouvir: Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha. O jeito é se resignar com a ideia de que cada panela tem sua tampa.
Sou daqueles que sabe onde o sapato aperta. Também sou catedrático na diferença entre democracia e ditadura. Por esses motivos, escolho bem minhas companhias e meus candidatos. Para mim, já passou da hora de repensarmos o futuro. De que adianta brigar com os vivos e levar flores para os mortos? Da mesma forma, é difícil explicar porque ficamos anos sem conversar com um vivo, mas nos desculpamos e o homenageamos quando ele morre. Nada mais bizarro do que chamar de ladrão e desejar a morte dos vivos, mas se agarrar desesperado quando esses morrem.
Coisas do ser humano cômico desde o berço. Já que não há solução, tenho de me acostumar a viver na estranheza, na esquisitice do parceiro de repartição, de condomínio, de supermercado ou de alcova. É o fim do mundo, mas o mais bizarro é ter de provar diariamente a verdade para esclarecer mentiras. Mário Quintana estava até a alma de razão quando escreveu um de seus versos mais atuais: “Eu estava dormindo e me acordaram. E me encontrei, assim, num mundo estranho e louco…E quando começava a compreendê-lo um pouco, já era hora de dormir de novo”.
Mais radical e não menos atual, Bob Marley disse o que eu adoraria ter dito: “Sou louco porque vivo em um mundo que não merece minha lucidez”. Se alguém duvida, basta lembrar que são os certinhos que fazem bombas, que invadem prédios públicos e que ficam loucos quando percebem o fracasso do golpe. Entre a bizarrice, a comicidade e a loucura, a única certeza é que tem coisas estranhas acontecendo. Tem alguma coisa de fúnebre e de podre no ar. O mais estranho é a forma estranha que determinados grupos encontraram para endeusar os estranhos. O que sei é que o mundo e o Brasil não estão como deveriam estar. Eduardo e Jair Bolsonaro que o digam.
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras
