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Torcida do Leão pressiona diretoria com medo de voltar à Série B

Na Ilha do Retiro, onde o calor é inclemente e a paixão é uma doença hereditária, a paciência da torcida rubro-negra está derretendo mais rápido que picolé no asfalto da Av. Abdias de Carvalho. O Sport Clube do Recife, esse velho e temperamental senhor do futebol nordestino, parece ter esquecido o caminho da vitória e anda tropeçando nas próprias chuteiras como um debutante em baile de gala.

O time perdeu de novo. E de novo. E de novo. Já não se sabe se é azar, zica, mau-olhado ou apenas futebol mesmo. A verdade é que, a cada rodada, a Série B aparece no retrovisor com um sorriso sarcástico, como quem diz: “Saudade, neném?”

A torcida, que nunca foi de ficar calada, decidiu agir. Entre um “Ei, diretoria, vai tomar…” e outro coro mais criativo, começou a pressionar com a diplomacia típica da arquibancada: faixas, protestos no aeroporto, vídeos indignados no Instagram e até carrinhos de mão simbólicos oferecidos aos jogadores como sugestão de transporte até a saída do clube.

— A gente já viu esse filme antes — grita um torcedor, com a camisa de 1987 esgarçada no peito e uma expressão entre o cansaço e o desespero — e o final é sempre em preto e branco com gol do Operário no apagar das luzes.

A diretoria, por sua vez, tenta manter a compostura. Em entrevistas, fala em “reconstrução”, “momento de turbulência”, “processo natural” — expressões que, traduzidas para o idioma da arquibancada, significam: não sabemos o que fazer, mas estamos fingindo bem.

Enquanto isso, os jogadores treinam em silêncio, cercados por olhares mais cortantes que esporro de técnico em vestiário. O técnico, coitado, já ensaia a justificativa padrão: “o grupo é bom, mas precisa de tempo” — mesmo que o tempo, neste momento, seja artigo de luxo.

A Ilha do Retiro, outrora fortaleza inexpugnável, virou terra de nervos. Até os vendedores de amendoim estão mais agressivos. E o medo da Série B, esse velho conhecido, ronda como fantasma de temporada passada.

Mas é bom lembrar: o torcedor do Sport, entre um surto e outro, é feito de teimosia. Pode vaiar, xingar, ameaçar acampar na sede, mas não larga o osso. O Sport é vício, é fé, é karma. E, enquanto houver uma chance matemática, uma faísca de esperança e uma arbitragem duvidosa, a torcida vai continuar ali — empurrando, cobrando, sofrendo — como quem ama demais e, por isso mesmo, grita.

Porque ser torcedor do Sport não é para amadores. É para os fortes de coração… e fracos de sorte.

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