Quem quer muito traz de casa é um ditado se que aplica a tudo, inclusive à política e a políticos. De autoria desconhecida, mas provavelmente composto e baseado no senso comum de um determinado meio cultural, o provérbio parece ter sido criado para o senador Ciro Nogueira (PP-PI), temporariamente presidente do partido. Ex-bajulador do presidente Lula e cabo eleitoral de Jair Bolsonaro, ele é do tipo que topa tudo por um carguinho, preferencialmente por dinheiro. Onde há uma roleta supostamente da sorte, Ciro certamente será um dos primeiros da fila.
De príncipe regente do Centrão, ao lado do deputado Arthur Lira (PP-AL), e de craque na rede de intrigas, o senador hoje está mais indigente eleitoral. Sem o mesmo pedigree de 2018 e longe dos dias dourados do bolsonarismo, o moço está à procura de um berço esplêndido. Na verdade, ele está à espera de um milagre. Com chances remotas de se reeleger senador pelo Piauí, estado comandado pelo PT de Luiz Inácio, Ciro Nogueira vem tentando de tudo para se manter na ribalta.
A manobra da vez é defender até o fim a candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e se lançar candidato a vice com apoio de Bolsonaro. O problema é que, assim como na vida afetiva, o amor acaba e a fila anda. Em prisão domiciliar e bem próximo da prisão definitiva, o ex-presidente pode ser tudo, menos leigo político. Do sofá de sua confortável casa, Jair mandou avisar que reconhece o traquejo e a habilidade política de seu ex-ministro, mas, caso não consiga reverter a condenação, seus indicados a vice em uma chapa com Tarcísio seriam Michelle ou Flávio Bolsonaro.
O recado teria sido dado a Valdemar Costa Neto, presidente do PL e parceiro emérito de Ciro Nogueira na disputa pelo protagonismo da direita. Pura ambição pessoal. Enfim, Bolsonaro não aposta no príncipe sem coroa justamente porque ele não agregará votos para seu futuro aliado. Ou seja, rei morto, rei posto. É o triste fim do mestre de cerimônia de velório de defunto vencido. O mesmo se aplica a Valdemar, figura sem brilho e um ser errante nas fileiras da direita mais conservadora. Na ânsia de se candidatar a vice, o senador piauiense já brigou com Deus e o mundo.
O último foi o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, presidenciável desde o berço. Aliás, entre o sonho dos governadores de segundo escalão, há um Ratinho à espreita. Ele ainda não saiu do buraco, mas já começou a roer o queijo redondo do Planalto. Embora se ache o rei da cocada preta, Caiado sobra em todas as listas de candidatos da direita. Pior do que ele só Romeu Zema, o governador alfa e cuja zema serve, no máximo, para má digestão e picadas de inseto. O resultado do choque entre as estrelas do conservadorismo não deverá ser outro: todos terminarão no limbo. Ou alguém acha que Lula da Silva deixou de ser o cara?
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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais
