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Trump pode até cortar tranças de Xandão, mas não livra Bolsonaro da cadeia

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, durante coletiva de imprensa no Centro de Divulgação das Eleições.

Alegando perseguição política a seu pai pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, o quase deputado ou deputado do quase Eduardo Bolsonaro (PFL-SP) escafedeu-se para os Estados Unidos com um objetivo pré-estabelecido: perseguir política e administrativamente o ministro Alexandre de Moraes. Ex-prodígio fritador de hambúrgueres na terra de Tio Sam, o filho 03 parece não ter outro propósito na vida pública que não seja “prejudicar” um agente da República que, em nome da lei e da justiça, deverá levar Jair Messias para a cadeia. Tal pai, tal filho.

Não tenho vocação para aparadora de cuspe, tampouco ganho para avaliar o quanto esse ou aquele homem público trabalha. Entretanto, é meu dever lembrar o que faz e o que deveria fazer um deputado federal. Eduardo Bolsonaro abdicou do mandato para conspirar contra o Estado Democrático de Direito. Tudo porque o pai não conseguiu efetivar o golpe que o perpetuaria no poder. Representante da extrema-direita brasileira, 03 é um cidadão brasileiro com funções públicas, mas publicamente comemora possíveis sanções contra outro brasileiro sob a acusação de violação de direitos humanos.

Até onde o Brasil inteiro sabe, o crime de Alexandre de Moraes é ter sido escolhido para julgar o principal articulador de uma trama contra a posse do presidente Lula da Silva, cujo efeito prático, caso tivesse sido efetivado, seria cassar a liberdade e os direitos do povo. O ministro é persona non grata no clã exclusivamente por defender a democracia. As sanções prometidas pelo governo dos Estados Unidos são realmente uma “grande possibilidade”. Já a prisão de Bolsonaro por tentativa de golpe é um fato, uma certeza. E não adianta o jus sperniandi interno ou as ameaças externas. Ou seja, não há nada que o obscuro Donald Trump possa fazer para clarear o futuro de Jair Messias.

Enquanto isso, 03 investe o mandato para sancionar Moraes. Eleito para legislar em benefício do povo brasileiro, Eduardo é um exemplo para o pai e provavelmente para o clã. Desde o primeiro mandato, assumido em 2015, ele tem três projetos aprovados. O primeiro deles incluiu o nome de Ayrton Senna no Livro de Heróis da Pátria. O segundo instituiu o Dia Nacional da Pessoa com Atrofia Muscular Espinhal e o terceiro criou o grupo parlamentar Brasil-Bahrein. Com todo respeito à importância de Senna para o esporte nacional, a importância das proposições ainda carece de explicação.

No período em que Bolsonaro comandou o Palácio do Planalto, 03 apresentou e aprovou apenas o relevantíssimo projeto de resolução Brasil-Bahrein. Nada de anormal para a família. Ao longo dos 28 anos em que manteve assento na Câmara Federal, Jair Bolsonaro apresentou cabalísticos 171 projetos de lei, mas conseguiu aprovar apenas dez dessas propostas, entre elas algumas PECs. Os números que marcam a exaustiva atuação do ex-presidente como deputado contabilizam, portanto, menos de uma matéria legislativa por ano. Como presidente, Jair bateu o recorde de emendas à Constituição. Foram 26, boa parte delas aumentando gastos. De cunho eleitoreiro, uma delas reajustou o Auxílio Brasil (Bolso Família) de R$ 400 para R$ 600.

Promulgada em julho de 2022, a PEC não alcançou o efeito almejado. Três meses depois, Bolsonaro perdeu a eleição para Luíz Inácio. Perdeu, tentou o golpe e perdeu de novo. Há chance de se recuperar. É só esperar pelo menos até 2030, quando, após cumprir sua pena, estará novamente apto a concorrer a um cargo público. Provavelmente não voltará à Presidência, mas, com algum esforço, quem sabe a vereança no Rio de Janeiro ou em São Paulo. Difícil será convencê-lo da importância da frase de Winston Churchill, para quem a democracia pode ser o pior dos regimes, mas não há nenhum sistema do que ela. Por fim, o governo Trump pode até cortar as tranças de Alexandre de Moraes, mas não livrará Bolsonaro do ócio solitário na masmorra.

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Sonja Tavares é Editora de Política de Notibras

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