Em Washington, onde a realidade é um roteiro de comédia pastelão com orçamento bilionário, Donald Trump, que vive novamente no Salão Oval da Casa Branca, cercado de retratos dourados de si mesmo, resolveu jogar uma granada comercial no colo do Brasil. Não por causa da economia, da geopolítica ou da balança comercial. Mas por amor. Amor ao bolsonarismo, aquele projeto tropical de reality show que ele acredita ser sua cria mais exótica ao sul do Equador.
Ao assinar nesta quarta-feira, 9, com caneta dourada e expressão de faroeste, a imposição de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros, Trump foi direto ao ponto, transmitindo que a decisão “é em nome de Jair. O sistema impediu a reeleição do homem mais honesto da floresta.” E acrescentou, sem piscar: “Não podemos permitir que a Suprema Corte, o Senado e a imprensa destruam patriotas de bem em nenhum hemisfério.”
O que parecia uma cena deletada de House of Cards misturada com Os Trapalhões, virou decreto presidencial. A partir de 1º de agosto, o café brasileiro pagará pedágio patriótico, o aço será blindado por nacionalismo ianque, e até as havaianas, um símbolo da resistência cultural do povo de chinelo, terão que disputar espaço com sandálias texanas.
Em Brasília, o calor subiu no Planalto. Lula, entre um gole de café e um palavrão, convocou às pressas ministros, embaixadores e cartomantes para entender o surto trumpista. Disse reservadamente assessores próximos que não vai aceitar “chantagem emocional de quem tem franja tingida e saudade de Capitólio”. Mas, no íntimo, sabe que Trump não está agindo por lógica. ‘Tio Sam’ está movido por ciúmes, nostalgia e um leve desequilíbrio geopolítico.
Fernando Haddad, o coitado ministro da Fazenda, já revisava os gráficos, tentando descobrir se banana passa a ser item de luxo. No Supremo, ministros pareciam dispostos a acionar a OMC e até mesmo o Batman para combater o cínico Coringa dos states. Já Celso Amorim, com sua fleuma de diplomata de novela, sugeriu uma reação proporcional. Algo como aumentar em 200% o imposto sobre hambúrguer com cheddar duplo e suprimir a importação de fuzis automáticos — o que, convenhamos, atingiria em cheio o eleitorado do ex e do atual.
A cena beira o surrealismo, com um presidente americano usando a máquina do Estado para fazer pirraça diplomática em defesa de um ex-presidente brasileiro que posta vídeo em grupo de zap, enquanto monta jet ski. É a globalização dos ressentimentos. A internacionalização do “roubaram minha eleição”.
Analistas internacionais estão boquiabertos, embora alguns admitam que tudo faz sentido, dentro do delírio contínuo que se tornou a política ocidental. “É como se o mundo fosse um grande grupo de WhatsApp sem moderação”, escreveu um colunista europeu.
E enquanto os mercados se contorcem e a diplomacia busca uma saída, Trump segue sorrindo com seu bronzeado cenográfico, acreditando piamente que está salvando o Ocidente. Ou, quem sabe, apenas salvando o último suspiro do seu clone tropical, agora convertido em influencer de churrasco e teoria da conspiração.
No fundo, tudo isso é só mais um capítulo do teatro moderno. A guerra não é mais por petróleo ou território, mas por narrativas, curtidas e acenos de Telegram e X. E o Brasil, como sempre, é protagonista involuntário da tragicomédia global. Cabe aLula responder. E colocar Trump em seu devido lugar. Quanto a Bolsonaro, o Xerife Xandão já está com as chaves da cela lá na Papuda.
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Marta Nobre é Editora Executiva de Notibras
