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Trump sonha o sonho que o galo marvado impediu Jair de sonhar

Desde menino minha avó já me dizia para eu atentar para o fato de que, se não houvesse colírio, a saída seria os óculos escuros. Aprendi a lição e nunca mais esqueci que a metáfora criada pelo mestre Raul Seixas tinha – e tem – pelo menos três significados. Um se aplica àqueles que precisam disfarçar os olhos vermelhos após algumas baforadas em um baurete gentilmente cedido do além por Tim Maia ou por Bob Marley. O segundo remete aos improvisos e adaptações do povão diante das limitações sociais.

Certamente o mais comum na política praticada por amadores, o terceiro diferencia os verdadeiramente poderosos dos mitos mequetrefes e fabricados nas reuniões de síndicos de condomínios fechados e frequentados pela elite matusquela. Longe do pão e do osso duro, mas sem visão capaz de engolir a serpente no modo sapo barbudo, resta aos engomadinhos que endeusam o sargento Pincel descer o pouco que já conseguiram subir. Em síntese, faz dois anos que eles batem a cara contra o muro.

Embora não saiam da frente do espelho, tudo indica que eles morrerão batendo de frente contra tudo que é bom para o país. Sobre os que sabem alguma coisa e os que imaginavam que sabiam tudo, a diferença foi ratificada esta semana pelo poderoso presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Cumprindo uma promessa de campanha, o primo-irmão do Mickey Mouse concedeu indulto a um grupo de 70 aliados políticos que tentaram subverter o resultado das eleições de 2020, quando o republicano perdeu feio para o democrata Joe Biden.

Na época, mesmo sem evidência alguma, os correligionários do megaempresário norte-americano denunciaram fraude nas eleições presidenciais. Apesar de mais uma de suas estúpidas demonstrações de poder, Donald Trump, no melhor estilo general Tainha, mostrou que ainda tem o bastão de comando mundial. Mesmo contrariando o restante do mundo, diz que iria fazer e fez. E o que dizer de seu discípulo ideológico Jair Bolsonaro. Nada além de que ele vem fracassando desde que se imaginou filho postiço do homem que jurou matar o homem mau. Copiar o indulto aos mercenários dos EUA fazia parte do sonho dourado de Jair Messias. Como sua prisão é uma questão de dias, o sonho deverá ser sonhado no túmulo.

Daí a obrigação do golpe para se perpetuar no poder e indultar todos os meninos maluquinhos que invadiram o playground da Praça dos Três Poderes e derrubaram, de uma só vez, o STF, o Congresso e a Presidência da República. Com o fracasso do golpismo, a ordem passou a ser apostar todas as fichas na eleição de um dos quatro ou cinco governadores tratados a chibata curta pelo ex-presidente. Como dificilmente um deles conseguirá tirar Luiz Inácio do podium, a estratégia melou. Isso quer dizer que a ideia de Trump, hoje fato consumado, virou pesadelo hediondo para as hostes bolsonaristas.

Em outras palavras, caso seja, Bolsonaro só será indultado lá pelas bandas de 2034. É claro que tudo que se diz sobre a corrida presidencial é pura especulação. Lula realmente se transformou no galo marvado. Entretanto, mesmo sem espora, o candidato a galo bom de vez em quando ameaça voltar à rinha. Por enquanto, fico com as reveladoras manchetes sensacionalistas, as quais revelam ao povo brasileiro que, além dos recordes na Bolsa de Valores e das recorrentes altas do dólar, a tendência de Trump e de seus amiguinhos da Faria Lima é trocar o boné com a frase “Make America Great Again” (Deixe a América boa de novo) pelo coletinho do PT com uma simplória expressão em vermelho sangue: É nós!

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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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