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Turistas usam máscaras para evitar mau cheiro que assola praias catarinenses

Aline Torres

Faz 30°C na Praia de Canasvieiras, a principal do norte de Florianópolis. O mar está fresco e o céu límpido. Vendedores oferecem drinques e água de coco. Essa poderia ser a imagem das férias ideais, se não fosse um detalhe: turistas usando máscaras na tentativa de amenizar o mau cheiro.

Em um extremo da praia fica o Riacho Beatriz; no outro, o Rio do Brás. Ambos desembocam esgoto no mar. Entre eles estão os banhistas, vítimas de um surto de virose, que começou no dia 7.

Segundo a coordenação da Unidade de Pronto Atendimento do Norte da Ilha, nos primeiros três dias foram atendidas cerca de 400 pessoas com febre, náusea, vômito e diarreia. Atualmente, são 50 casos por dia. A Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) relatou que 70% das pessoas investigadas com sintomas da doença frequentaram praias do norte. Além de Canasvieiras, há casos em Ingleses, Ponta das Canas e Cachoeira do Bom Jesus.

Além de afetar a saúde, a poluição prejudicou o comércio. Sandra Petersen, de 58 anos, moradora do bairro há 16 e uma das fundadoras da associação SOS Canasvieiras, diz que pousadas antes disputadas agora estão vazias. Em uma delas lia-se num cartaz “bem-vindos à praia do esgoto a céu aberto”. O protesto foi retirado por pressão dos vizinhos, que temem maior debandada dos turistas.

A SOS Canasvieiras foi criada em 28 de março de 2010. Seu principal alvo é a Companhia Catarinense de Água e Saneamento (Casan), denunciada pelo Ministério Público Federal por crime ambiental, justamente por ter uma estação que, em vez de tratar o esgoto, o despeja bruto no mar.

A Casan também foi denunciada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que detectou no Rio Papaquara quantidades muito altas de fosfato, nitrogênio e coliformes fecais, o que comprova o vazamento. O resultado é o surgimento de algas e bactérias que consomem o oxigênio da água, causando a morte de outras espécies, além do risco à saúde. O Papaquara deságua na Estação Ecológica de Carijós, uma das maiores reservas ambientais do Estado, cujos cursos d’água estão conectados com a principal bacia hidrográfica de Santa Catarina, a do Rio Ratones.

A prefeitura de Florianópolis buscou amenizar a poluição ao obstruir o encontro do Brás, construindo uma barreira de areia, facilmente desfeita pela chuva. O resultado da contenção foi a contaminação das praias do oeste – Sambaqui e Cacupé, por onde o esgoto desaguou pelo Rio Ratones, após atingir Carijós.

Na semana passada, o Ministério Público Federal abriu um inquérito para apurar as irregularidades cometidas pela Casan. A Fundação do Meio Ambiente, órgão governamental, também é investigada por liberar licença para ampliação da estação de esgoto sem estudos de impacto ambiental. A prefeitura de Florianópolis promete notificar as duas nos próximos dias.

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