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Um esporte que já teve dias de glória no Nordeste

Em meio aos gritos de “vai!” nas quadras improvisadas entre ruas estreitas, o Nordeste sempre pulsou com ritmos fortes — e, entre eles, o quicar da bola laranja já teve seus dias de glória. Muito antes do futebol reinar absoluto nos corações nordestinos, o basquete chegou como promessa de modernidade, inclusão e superação.

Foi nas décadas de 1950 e 1960 que o basquete começou a ganhar força em várias capitais nordestinas. Escolas públicas e clubes tradicionais como o Sport Recife (PE), o Ceará Sporting Club (CE) e o Bahia Atlético Clube (BA) incentivavam o esporte como parte de uma formação completa dos jovens. Em algumas cidades, como Salvador e Fortaleza, torneios escolares levavam multidões às arquibancadas.

“Era comum ver as quadras cheias nas tardes de sábado. O basquete tinha status de evento social e cultural”, relembra o ex-jogador e técnico Raimundo Lopes, que atuou pelo time universitário da UFBA nos anos 70.

Com o avanço das transmissões esportivas e o fortalecimento do futebol, o basquete perdeu espaço nas grades escolares e nos clubes. A falta de investimento em infraestrutura, treinadores qualificados e competições regulares colaborou para que o esporte ficasse à margem no cenário esportivo da região. Mesmo assim, resistiu.

Em bairros periféricos de cidades como São Luís (MA) e Aracaju (SE), jovens mantinham viva a paixão em quadras abertas, muitas vezes com tabelas improvisadas e bolas remendadas. O basquete tornou-se símbolo de resistência, inspiração e, para muitos, uma ponte para oportunidades através de bolsas de estudo e projetos sociais.

Nos últimos anos, com o crescimento do interesse pelo basquete nacional e internacional, o Nordeste voltou a respirar o esporte. Iniciativas como a Liga Nordeste de Basquete e projetos sociais como o Basquete Cruz das Almas (BA) e o Favela no Arremesso (RN) têm reativado a cultura da bola laranja na região.

Além disso, nomes nordestinos como Rafael Luz (natural de Arapiraca-AL) e Damiris Dantas (embora paulista, com raízes familiares nordestinas) têm incentivado jovens atletas locais a sonharem mais alto.

O basquete ainda enfrenta desafios no Nordeste: a escassez de patrocínio, a falta de visibilidade e a competição com outros esportes são obstáculos reais. No entanto, há uma nova geração de treinadores, atletas e entusiastas apostando em redes sociais, campeonatos regionais e intercâmbios para manter o esporte vivo e pulsante.

“O Nordeste já viu o basquete. Agora, ele precisa voltar a enxergá-lo com os olhos da valorização e do investimento”, afirma a professora e ex-atleta Karla Menezes, de Natal.

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