Dizem que no Nordeste o sol nasce mais cedo. Não é só no céu — é no peito do povo também. Porque aqui, antes mesmo que a claridade rompa o horizonte, a coragem já está acesa, teimosa, espalhando calor por dentro como se fosse um mandacaru florando no estio.
No sertão, onde a terra racha mas não se entrega, cada amanhecer é um pacto silencioso: o de continuar. O de botar o pé na estrada, o de encher o olhar de força, mesmo quando a vida resolve ser dura como a quentura do meio-dia. Mas o nordestino conhece esse jogo. Sabe que todo sol forte um dia descansa, e que toda seca um dia vira chuva miúda, que cai devagar, mas cai certeira.
No mercado da capital, na beira do rio, no roçado ou na calçada sombreada do fim de tarde, a esperança se espalha como vento bom. É no sorriso comprido da rendeira que move a agulha sem errar o ponto. É no pescador que encara o mar com fé de quem conversa com Deus todos os dias. É no retirante que volta para casa porque descobriu que suas raízes, mesmo quando cobertas de poeira, nunca deixaram de pulsar.
O povo nordestino tem uma mania bonita: a de não se curvar ao que tenta quebrá-lo. Se o mundo aperta, ele afrouxa o medo. Se o horizonte fecha, ele inventa um novo caminho. Se a tristeza chega, ele faz dela verso, prosa, cantoria — e segue. Porque aqui a vida é seca, mas o coração é farto.
Quem olha de longe vê apenas resistência. Mas quem chega perto descobre que é mais que isso. É uma espécie rara de esperança: aquela que não se apaga nem quando falta água, nem quando falta tempo, nem quando falta tudo. Uma esperança que brilha no olhar como espinho de mandacaru que reluz ao sol.
Nordestino não carrega apenas o sol no rosto — carrega no peito. E é por isso que, mesmo quando o mundo parece escuro, ele segue iluminando o caminho.
Porque coragem, aqui, não mora nos músculos, mas na alma.
