Finda a aventura de Gibran e Bi@ iniciada no Nordeste (Pernambuco), passando pelo Centro-Oeste (Goiás) e Sul (Santa Catarina e Rio Grande), devidamente relatada no chat há alguns dias, ninguém esperava aquele golpe de mestre de Gutta. Afinal, vinha um aniversário pela frente e todos contavam com a cena clássica: Snoopy cercado por velinhas, brindes virtuais e champanhe estourada na tela.
Gutta, porém, foi além. Decidiu transformar o aniversário em viagem-surpresa. Afinal, poucas coisas combinam menos com o frio de Florianópolis do que a data de 25 de setembro. E poucas coisas combinam mais com o coração de quem ama do que um voo direto para o calor nordestino.
Entre risadas e suspiros, Gibran abriu as portas da Praia de Itapuama para receber o casal. Não era apenas uma visita, mas a inauguração da alta temporada, com direito a cheiro de maresia, rede armada na varanda e a sensação de que o tempo ali corre mais devagar. Snoopy, que até então pensava em apagar velas com os amigos do chat, se viu apagando o cansaço do inverno sulista sob o sol forte de Pernambuco.
Bi@, sempre cronista de plantão, já digitava as primeiras linhas no grupo: “A gente piscou, e a Gutta voou. De malas, namorado e surpresa. O frio ficou em Floripa; o calor começou aqui.” E assim, entre decolagens, abraços e ondas, a história ganhava mais um capítulo, desses que não se apagam nem com o vento, muito menos com o passar dos anos.
A manhã em Floripa parecia uma despedida. O vento era cortante, céu cinza e casacos ainda mais fechados. Gutta, disfarçando o nervosismo, puxava Snoopy pelo braço até o embarque. Ele, inocente, acreditava num simples almoço à beira-mar, sem imaginar que o presente de aniversário estava prestes a decolar.
No Aeroporto dos Guararapes, ansiosa aguardando a chegada dos amigos, Bi@ soltou no chat:
— Gutta não existe! Está embarcando e ainda finge que esqueceu a escova de dentes só pra despistar.
Gibran, do seu notebook em casa, respondeu com euforia:
— Preparem-se, porque Itapuama vai ser palco de um pouso romântico. E eu já comprei água de coco para a recepção.
Quando o avião cortou as nuvens, Snoopy enfim entendeu. O frio ficava para trás, e na bagagem vinha o calor da surpresa. Ele riu sozinho, meio incrédulo, e soltou apenas um “tu não existe, Gutta”.
E ela, com aquele ar de quem sabia muito bem o que estava fazendo, replicou:
— Pois agora tu vai existir em Pernambuco.
O pouso no Recife teve gosto de festa. Não houve faixas nem banda de frevo no desembarque, mas a simples brisa quente já era recepção suficiente. Do aeroporto até a casa de Gibran, o caminho foi narrado em tempo real no grupo.
— Estamos na ponte, olha o mar!, digitava Gutta.
— Já sinto o gosto de peixe frito e cerveja gelada, completava Snoopy.
Na porta da residência, no condomínio à beira-mar, Gibran esperava como mestre de cerimônias. Camisa florida, sorriso largo e a rede balançando na varanda. Bi@, de longe, já digitava a legenda:
— Cena de cinema. O anfitrião abre a casa, o casal chega de mãos dadas, e a temporada começa.
Não havia champanhe, como os nicks esperavam, mas havia algo melhor: o estalo da primeira onda quebrando no quintal da praia. Snoopy não precisou de bolo, porque seu presente estava ali, em carne, osso e sal.
O sol se despediu pintando o horizonte de laranja e violeta, e o mar, já mais manso, embalava a chegada da noite. Gibran acendeu algumas luminárias na varanda, o cheiro de peixe frito se misturava ao da brisa salgada, e a mesa, cercada de risadas, ganhava ares de confraria.
Snoopy, ainda atônito com o presente inesperado, olhava para Gutta como quem descobre um novo mapa do tesouro. Bi@, no grupo, digitava quase em tempo real:
— Anotem aí: 25 de setembro não é só aniversário de Snoopy, é também feriado particular em Itapuama.
Os nicks, mesmo distantes, vibravam como se estivessem à mesa. Alguns pediam fotos do brinde, outros reclamavam da falta de champanhe prometida. Mas ninguém ousou negar que os drinks tropicais, coloridos e gelados, faziam mais sentido do que qualquer garrafa francesa.
Quando a Lua Cheia apareceu por trás dos coqueiros, Snoopy levantou o copo. Não precisou de discurso. Bastou um olhar demorado para Gutta, seguido de um sorriso que dizia tudo. O brinde foi à vida, ao amor e àquelas pequenas loucuras que, de vez em quando, mudam o rumo da história.
E no registro da noite, Bi@ resumiu como sempre:
— Alta temporada inaugurada com sucesso. Quem quiser, que venha, porque aqui o frio não entra.
…………………….
José Seabra é diretor da Sucursal Regional Nordeste de Notibras, de passagem por Brasília
