Faz pelo menos quatro décadas desde que debutei como jornalista na velha política brasileira. Nova ou velha, é tudo a mesma coisa. Mudam as máscaras e as moscas, mas o desprezo pelo povo, pela saúde, educação e segurança pública se mantém inalterado. Ou seja, a bosta é a mesma. Me permitindo uma rápida divagação, talvez haja uma única e tênue diferença. Sou do tempo da política do “rouba, mas faz”. E hoje? Me parece que há uma dileta e estranha preferência pela terra arrasada, isto é, o desgoverno que rouba e nada faz. Se estou errado, como explicar a idolatria àquele ex-presidente que só não arrasou o Brasil por absoluta falta de tempo? Ou seria incompetência?
Na velha política, o aliado não tinha defeitos. Mesmo os cornos eram pessoas merecedoras de respeito. Bullying nem pensar. No entanto, bastava virar adversário e as falhas, deficiências, vícios, fraquezas e os chifres surgiam a golfadas ou a jatos. Atualmente, as imperfeições são meros detalhes. Na verdade, quanto mais imperfeito, mas amado. Como dizia o ex-presidente do Uruguai, o velho José “Pepe” Mujica, na política do século 21 “não é o mais inteligente nem o mais forte que sobrevive, mas o que melhor se adapta”.
Quem não se lembra daquele arremedo de presidente que, no auge de sua loucura pelo poder, colocou uns brasileiros contra os outros, mesmo em tempos de pandemia. Ele acabou se notabilizando como exemplo do mandatário que gerencia a nação preocupado exclusivamente com os amigos empresários, particularmente os do agronegócio e os tubarões da Fiesp. Ao povo, notadamente o denominado gado, mais valia uma promessa que nunca seria cumprida do que a explanação da verdade. Talvez uma mistura de Pinóquio com o narigudo Garibaldi.
Aliás, verdade é uma palavra que ele mesmo fez questão de apagar do dicionário. Faltou alguém informá-lo sobre os ensinamentos de Nicolau Maquiavel acerca de pequenos detalhes da velha forma de fazer política. “É melhor ser temido do que ser amado, se não se pode ser ambos”. Uma das mais importantes ideias da filosofia política renascentista, a célebre frase de Maquiavel ainda hoje gera acalorados debates. Pai da moderna teoria política, o filósofo e historiador italiano também deveria ser estudado pelos eleitores brasileiros.
Se o conhecessem pelo menos um pouquinho, talvez alcançassem a profundidade da expressão “Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão”. Como o fim justifica os meios, talvez eles (os eleitores) jamais percebam que a maior falha dos que aceitam ser instrumentos para que o outro se torne poderoso é que, mesmo quando faz bom tempo, existe tempestade. E essa normalmente chega sem aviso prévio. Chegou para aquele pretenso profeta, provando que muitos viram quem ele parecia, mas poucos conseguiram sentir quem ele realmente era. É a tal história da rola que nunca se intimidou com a pistola do carcará até experimentar sua picada.
É a rebatizada nova teoria da velha política com pelo menos duas caras: a que se expõe aos olhos do público e a que transita nos bastidores do poder. Eu sempre prefiro a primeira, a mais óbvia. Se vale uma sugestão, segue mais uma de Maquiavel: “Todos os estados bem governados e todos os príncipes inteligentes tiveram o cuidado de não reduzir a nobreza ao desespero, nem o povo ao descontentamento”. Reflitam sobre quem nada fez e sobre quem faz. Embora me pareça desnecessário, se querem nome, endereço, CPF, número partidário e o quantitativo de dedos, eu dou. Na dúvida, procurem Seu Cuca. Para os que ainda não me conhecem, Seu Cuca é eu.
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras
