No Brasil do vale tudo, pobre é de direita, prostituta goza e rico adora marchar com quem libera verba mediante dez por cento. É o esculacho libidinoso, moderníssimo, nada republicano, mas é o que temos. Por aqui, a realidade normalmente se revela muito pior do que a ficção. É o país de milhões de Odetes Roitmans, de oito ex-presidentes presos, de eleitores cada vez menos sintonizados com as mazelas nacionais e de centenas de parlamentares preocupados exclusivamente com seus projetos pessoais.
Dizem que nem tudo que reluz no Brasil é ouro. Dizem também que nem todos que vagueiam estão perdidos. Depende do ponto de vista ou, na melhor das hipóteses, da forma como se recebe a informação. Por exemplo, lembrar a um congressista bolsonarista que 2026 será o ano do cavalo na China é o mesmo que dar mais um motivo para ele lavar a égua. Pior é a resposta do tal parlamentar a um convite para participar do movimento contra a corrupção: Quanto vou levar?
E não há que se falar em princípios ou em moralidade. É pura perda de tempo, na medida em que, sem exceção alguma, as excelências liquidaram o que ainda restava de ética na última Black Friday. O presente do indicativo da propina nos arredores do Congresso é levar para o pretérito perfeito o futuro da saúde, da habitação, da segurança e da educação. O que eles se recusam a ouvir é que o ministro Alexandre de Moraes já está com a faca e o queijo na mão. Escolhida a dedo no circo do golpe, a goiabada começa a ser descarregada no próximo dia 2 de setembro. Depois dessa data, o vale tudo estará por um fio. No julgamento, Xandão usará a caneta para cortar o queijo encomendado por Bolsonaro a Donald Trump.
Resumindo, as pessoas se enganam quando afirmam que a ópera chamada Brasil já não é mais o que costumava ser. Ela é o que sempre foi. Esse é o nosso grande problema. Pelo menos a curto prazo, não há como modificar o quadro. A médio, porém, tudo pode acontecer. Arte do possível até a chegada de Jair Bolsonaro e filhos ao poder, a política brasileira se transformou em um circo mambembe, daqueles em que até o vendedor de pipoca tem vínculo com a safadeza. Com a lona puída pelos ratos que comandam esse circo, qualquer menino do Maternal II sabe quem faz o papel de palhaço para a plateia que torce por mágicos, engolidores de faca e falsos profetas.
Ou seja, a começar pelo eleitorado que aplaude congressistas pródigos em retrocessos, quase tudo na política nacional é falso. Mesmo xingado publicamente pelo filho, o pai que tenta recuperar o poder à força se une ao que há de mais espúrio na política para fabricar mentiras em série. Como Judas, Jair e Eduardo Bolsonaro surfam nas ondas da idiotice de eleitores fanáticos por malucos e, junto com o pastor Malafaia, criaram a mentirosa tese de que o presidente Luiz Inácio e o ministro Alexandre de Moraes ameaçam a democracia. Se alguém duvida de que eles fizeram o possível para acabar com esse bem maior do povo brasileiro, basta dar uma passada d’olhos pela pauta defendida no Congresso pelos parlamentares acochambrados na seita bolsonarista.
Do voto impresso e da anistia a golpistas à tentativa de revogação da Ficha Limpa, tudo é possível para as excelências do circo partidário da boquinha. Aliás, os partidos envolvidos lembram a história de Aladim e da lâmpada maravilhosa. Ninguém tira da cabeça de seus simpatizantes que Bolsonaro é o gênio. Em defesa do “visionário” de porra nenhuma, a turma do ódio trabalhou insanamente para transformar a história da palhaçada na palhaçada da história. É por isso que na platéia do circo chamado Congresso Nacional só os tolos acreditam que política e religião não se discutem.
Valho-me do pregador inglês Charles Spurgeon para lembrar que essa é a razão pela qual os corruptos permanecem no poder e os falsos profetas continuam a pregar. Tudo a ver com a gritaria dos bolsonaristas contra a caneta de Alexandre de Moraes. Como no Brasil do vale tudo só não vale mais empurrar as mentiras dos golpistas para debaixo do tapete, o atarefado ministro já está se preparando para o dia 2 de setembro, data do início do julgamento da trupe antidemocrática. Além da inteligência, da papelada e dos assessores, Moraes sabe que nem todo julgamento se resolve com uma lata de cerveja. Os de Bolsonaro e de seus meninos maluquinhos deverão ser muito piores do que uma terapia de família. Por isso, a caixa que ele encomendou terá 12 ou 15. Pelo andar da palhaçada, o circo será desfeito antes da sexta latinha.
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Sonja Tavares é Editora de Política de Notibras
