Há quem diga que Romeu Zema anda mirando o Planalto. Mas, enquanto ele se prepara para escalar a montanha do poder, Minas Gerais tropeça nas pedras soltas da sua própria cordilheira — não a do Espinhaço, que agora virou peça publicitária, mas a cordilheira simbólica de problemas que o governador insiste em maquiar com drones e comerciais de TV.
De repente, Minas ganhou um novo cartão-postal: a Cordilheira do Espinhaço, “a única do Brasil”, como se fosse uma revelação geográfica recém-descoberta por bandeirantes de marketing. O vídeo é bonito, com sobrevoos, trilhas, gente sorridente e o logotipo do governo reluzente no canto. Só falta dizer que é Zema quem abriu as picadas e domou as serras.
Enquanto isso, as estradas continuam um convite à oração, a educação pública caminha em marcha lenta e os hospitais, quando não em greve, sobrevivem de verbas pingadas. A segurança pública — essa cordilheira de crises — anda tão baixa que até o crime já subiu o morro. Minas é um Estado de paisagens deslumbrantes, mas o panorama social está em ruínas discretas, escondidas atrás do verde dos comerciais.
Zema, que se vende como gestor eficiente, parece ter descoberto que a propaganda é o novo minério de Minas: dá brilho, rende manchete e não precisa de asfalto. A comunicação oficial virou um parque temático, onde o turista político é conduzido por trilhas cenográficas rumo a um horizonte de intenções eleitorais.
Mas há um detalhe que pode incomodar: toda cordilheira tem espinhos. E o Espinhaço da propaganda pode se transformar na espinha atravessada na garganta de um candidato que tenta se passar por “centro”, enquanto pratica o receituário seco do Novo — um partido que envelheceu antes de amadurecer.
Se o futuro de Minas depender do mesmo entusiasmo que o governo tem por publicidade, Zema pode até chegar a Brasília. Mas o povo mineiro, cansado de propaganda e buraco, talvez prefira continuar subindo suas montanhas a pé — porque de carro, não dá.
E assim os ‘mineirim’ vão seguindo, entre serras e slogans, com governantes que trocam a realidade por renderizações em alta definição. Minas continua linda, sim — mas cada vez mais virtual.
……………………..
Marta Nobre é Editora Executiva de Notibras
