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Se RR quiser governar bem, vai precisar errar menos e saber pedalar

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São vários os nomes considerados inventores da bicicleta, popularmente chamada hoje de bike. Tem muita gente na lista, de Leonardo da Vinci a Dunlop, um escocês que deu a aparência atual ao veículo de duas rodas mais utilizado em todo o mundo.

A bike próxima da que conhecemos existe há mais de dois séculos. Na última década a onda do politicamente correto, ambientalmente perfeito e outros apelos éticos proliferaram.

No meio político é um prato cheio para os profissionais do voto ganharem dividendos em tribos ecologicamente engajadas. Existem milhares de associações, ONGs, confrarias, que erguem a bandeira da bike como o mais perfeito recurso para resolver os problemas da mobilidade urbana. E ninguém ousa submetê-los a críticas severas.

Pega mal. Afinal, os condutores desse meio de transporte que não polui, não desperdiça combustível fóssil, são frágeis vítimas do trânsito violento, do preconceito, da indiferença, dizem os líderes dessas organizações.

Mas a realidade não é essa. Tem até promessa de campanha que usa a quilometragem das ciclovias como extensão de plataforma política. O governo de Agnelo Queiroz pavimentou dezenas de ciclovias sem nenhum efeito prático. É bom observar que o GDF inventou a única ciclovia de mão única do mundo e ela está localizada no Eixo Monumental de Brasília. Existe naquela via uma que acompanha o Eixo Norte (sentido Feira Popular) e outra ao lado do Eixo Sul (sentido Congresso Nacional).

Alguém entendido pode explicar de onde vem tal aberração? Uma ciclovia serve aos dois sentidos, especialmente em um local que tem um amplo canteiro central. No Rio de Janeiro, considerada a cidade populosa que mais utiliza ciclovias no Brasil, não existe mão única. Elas servem aos dois sentidos, respeitada a preferência do trânsito à direita.

Nem o TCDF percebeu isso. Ou percebeu? Quanto custou duplicar uma via sem nenhuma necessidade? O ciclista que andar na contramão será multado? Quantos ciclistas pedalam ali durante a semana? São essas respostas que os líderes dos movimentos pró-bike têm que responder. E as autoridades também.

Quais são os estudos que determinam a razão de construir uma ciclovia na EPTG, como foi anunciado com alarde e complacência dos integrantes da mesa redonda em programa matinal da rádio CBN nesta segunda-feira 15, que ninguém nunca viu nem há justificativa para isso?

Esses integrantes das várias organizações Rodas Disso e Daquilo, não dão respostas convincentes. Fazer ciclovia é moda. Então esses admiradores do veículo politicamente correto que, aliás, não utilizam as ciclovias, mas as vias dos automóveis, inclusive com os seus próprios carros durante os dias úteis – e estão sempre morrendo – argumentam que são atletas de alto rendimento arriscando suas almas por mero altruísmo.

Ah… é preciso ter mesmo muita paciência. Esta redação aguarda uma foto de um desses integrantes utilizando as ciclovias de segunda a sexta-feira. Tem que ser flagrante… Vamos aos fatos, senhor diretor do DER do Distrito Federal, Henrique Ludovice, que acolheu os fundamentos dos ciclistas na mesma entrevista da rádio que toca notícias com grande elegância. Ambos. Nos anais do próprio GDF existem estudos técnicos internacionais que revelam o perfeito planejamento do sistema viário no modal bicicleta, como importante auxiliar da mobilidade urbana. Mas é preciso não se deixar contaminar pela realidade holandesa.

Estamos em Brasília, alô além, no Brasil. A média mundial de utilização de ciclovias para a locomoção útil (não é de lazer), pelos trabalhadores é de menos de 2 km. Ou seja, elas servem para iniciar e finalizar um percurso das suas residências até o trabalho. Vão de casa até atingir uma estação de transporte coletivo decente – VLT, monorrail, trem, ônibus etc. Ali encontram modernos bicicletários onde seus veículos de duas rodas não poluentes são guardados com segurança, embarcam e chegam ao destino em pouco tempo. Podem, inclusive, embarcar suas bikes.

Senhor Ludovice, desculpe a ousadia e a exposição desse modesto escriba em provocar o assunto, mas foram consultados os sindicatos dos trabalhadores públicos, da construção civil, do comércio, estudantes? Rodas Disso e Daquilo não estão preocupadas com esse público que poderia justificar ciclovias de 20, 30, 40 km.

Que levante a mão o trabalhador que vai pedalar um percurso como o de Taguatinga ou Gama até o Plano Piloto, ida e volta, no sol e na chuva, todos os dias, para pagar a prestação da sua bike, comprada com suor. Falácia e irresponsabilidade.

Temos em mãos o estudo técnico responsável e o resultado da pesquisa. Eles provam porque uma ciclovia localizada no Park Way, por exemplo, está coberta de mato onde as cobras não pedalam. Nunca uma alma penada passou de bike por lá. Se quiser, podemos visitá-la. Só não dá para pedalar. Estão enterrados ali muitos remédios da rede pública de saúde. Custou dinheiro, muito dinheiro do contribuinte.

Uma recomendação, longe de querer ser simpático ao tema, que tem apelo forte, diga-se, é deixar de ouvir apenas as confrarias dos elegantes com suas sapatilhas, capacetes, roupinhas coladas e bikes que custam alguns milhares de dólares, e ouça os especialistas dos países desenvolvidos, os usuários do transporte coletivo, trabalhadores e estudantes, antes de dar início a outro absurdo que é uma ciclovia na EPTG. No desenho que é proposto, evidentemente.

Faça a medição de usuários nas ciclovias existentes, de segunda a domingo. O resultado é de impressionar. Temos o resultado, inclusive em vídeo. É melhor abrir o autódromo para os tais atletas de alto rendimento, que não entenderam até hoje que a bike de Leonardo da Vinci é praticamente a mesma desde milhares de anos. Mas os automóveis não. Assim teremos mais pedalantes vivos e mais trabalhadores chegando aos seus destinos sem poluir e sem ter que pedalar oito horas por dia.

Governar exige menos bajulação e mais bom senso. Isso sim, é justo. E procure saber exatamente quantos pedalantes votam. Não é de impressionar.

Kleber Ferriche

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