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Abismo social

55% da renda brasileira fica com apenas 1% da população

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Autor/Imagem:
Pedro Nascimento, Edição

No Brasil, 55% das riquezas estão concentradas nas mãos de 1% da população, indica um relatório sobre desigualdade produzido por um grupo de 100 pesquisadores de 70 países que compara de maneira inédita a distribuição da riqueza a nível mundial e sua evolução em quase quatro décadas.

O estudo foi liderado por Lucas Chancel, da Escola de Economia de Paris, e Thomas Pikkety, autor de “O Capital no Século XXI”. O documento, divulgado nesta quinta-feira, 14, mostra que as desigualdades aumentaram profundamente no mundo desde a década de 1980, em particular nos Estados Unidos. Os pesquisadores se mostram preocupados com o possível agravamento da situação até 2050.

Este fenômeno, no entanto, aconteceu com ritmos diferentes, de acordo com as regiões, afirmam os coordenadores do estudo, que apontam um forte aumento das desigualdades nos Estados Unidos, mas também na China e na Rússia, países cujas economias registraram uma significativa liberalização durante os anos 1990.

Nos Estados Unidos e Canadá, este índice passou de 34% a 47%, enquanto na Europa foi registrado um aumento mais moderado (de 33% a 37%). De acordo com o estudo, a parte da riqueza nacional nas mãos de 10% dos contribuintes mais ricos passou de 21% a 46% na Rússia e de 27% a 41% na China, entre 1980 e 2016.

“No Oriente Médio, na África subsaariana e no Brasil, as desigualdades permaneceram relativamente estáveis, mas a níveis muito elevados”, afirma o documento, baseado em 175 milhões de dados fiscais e estatísticas resultantes do projeto wid.world (wealth and income database).

‘Divergência extrema’ – Em 2016, o pódio das regiões e países menos igualitários era formado por Brasil (55% da renda nacional nas mãos do 1% mais rico), Índia (55%) e Oriente Médio (61%), que perfila segundo os autores um “horizonte de desigualdades” em escala mundial.

No Oriente Médio, as desigualdades estão “sem dúvida subestimadas”, destaca o relatório, que menciona uma contradição entre as estatísticas oficiais dos países do Golfo e alguns aspectos de sua política econômica, como o crescente recurso a trabalhadores estrangeiros mal remunerados.

Classe média –  Entre 1980 e 2016, o 1% dos mais ricos obteve 27% do crescimento mundial. Os 50% mais receberam apenas 12% da riqueza, mas viram sua renda aumentar significativamente. O que não aconteceu com as pessoas entre as duas categorias, cujo “crescimento da renda foi frágil”.

As desigualdades vão aumentar ou diminuir no futuro? Em seu estudo, os autores antecipam um novo crescimento até 2050, com base nas atuais tendências. A participação do patrimônio dos mais ricos aumentaria assim de 33% a 39%, enquanto a classe média mundial veria sua participação no patrimônio cair de 29% a 27%.

“Tal evolução não é, no entanto, inevitável”, explicam os autores. De acordo com as projeções, as desigualdades aumentarão caso os países sigam a tendência atual nos Estados Unidos, mas podem registrar uma leve queda caso repitam a trajetória da União Europeia.

“Há margens de manobra. Tudo dependerá das decisões tomadas”, conclui Thomas Pikkety, que considera necessário um “debate público” sobre as questões.

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