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Moda cabeça

Cabelos ‘chavosos’ migram das quebradas para passarelas

Publicado

Autor/Imagem:
Natália Guadagnucci

Da periferia para as passarelas, a tendência mais interessante para cabelos nesta São Paulo Fashion Week são os cortes “chavosos” (uma gíria comum na cena do funk usada para descrever algo novo e estiloso), com riscos, padronagens e desenhos inusitados. O primeiro passo nesse sentido veio do projeto Ponto Firme, que apresentou criações feitas por detentos de um presídio em Guarulhos no último sábado, 21. Junto às peças multicoloridas de crochê, os cabelos trouxeram ainda mais força a uma apresentação repleta de significado.

“Instigar quem não tem privilégios a criar é um ato político”, diz Hélvio Tavares, a mente criativa por trás dos cortes do desfile. Segundo o cabeleireiro, nada foi planejado. Tavares estava na SPFW como parte da equipe da maquiadora Amanda Schön, que assinou a beleza do desfile. “Nem imaginava que ia fazer esses cortes, a inspiração veio na hora.”

Ao criar os visuais do desfile, Hélvio quis mostrar “a importância da liberdade, física ou ideológica”. Esse tipo de corte, com riscas e desenhos raspados, é tão comum nas “quebradas” de São Paulo que em lugares como Guaianazes, extremo leste da cidade, há endereços especializados no estilo – caso da barbearia Bom de Corte, que faz sucesso com os penteados estilizados. Ao transportá-los para um evento essencialmente frequentado pelas classes média e alta, Hélvio Tavares e Amanda Schön ajudam a romper paradigmas, propondo outras visões de beleza e diversidade.

“As pessoas estão muito preocupadas com a imagem de uma forma negativa, elas não se divertem. Por isso acho importante a gente aproveitar esse espaço para libertá-las dessas barreiras. A vida pode ser muito mais leve”, pontua Tavares, que exerce a profissão há quatro anos. Some a isso um gosto pelas artes plásticas, pelo movimento punk, pelo glamour dos anos 1980 e o estilo grunge dos 90: é desse balaio de influências que surge suas ideias mirabolantes.

Vindo de Campos dos Goytacazes, no interior do Rio de Janeiro, Hélvio atende hoje em sua própria casa no bairro de Pinheiros, na capital paulista. “Corto todos os tipos de cabelo, para todos os tipos de pessoas. Não há nenhum tipo de exclusão no meu trabalho. Quero ajudá-las a lapidar suas belezas, sem precisar gastar com produtos caros e ter muito trabalho para se arrumar. A praticidade é muito importante para a gente poder se divertir sendo quem a gente é”.

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