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Brasil verdugo

Politicalha é a “malária dos povos de moralidade estragada”

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Reprodução Roraima 1

País da heresia, do despautério, do contrassenso, da safadeza, da indignidade, do orçamento e da inversão absoluta de valores, o Brasil de Bolsonaro, Lula, Ciro Gomes, Simone Tebet, entre outros candidatos, está falido. Precisa urgentemente de reparos na alma, na fuselagem física e, principalmente, na mente personalista de boa parte do seu povo. Vivemos num país em que pouca coisa funciona e onde o chicote da lei normalmente atinge apenas um lado. Na pátria do ódio e do jeitinho, os legisladores operam exclusivamente em benefício do umbigo, os executores só trabalham pensando na família e nos agregados e os julgadores são rápidos no gatilho somente quando os jurisdicionados são os próprios.

Enquanto isso, 30 milhões de brasileiros passam fome e cerca de 10 milhões procuram e não acham um emprego capaz de mantê-los vivos e com dignidade. É o povo, para qual o Legislativo, o Executivo e o Judiciário deveriam trabalhar, literalmente ao Deus dará. Somos uma nação da qual a maioria se serve. Os que conseguem servir não são os do quadro permanente. Via de regra, são terceirizados para suprir uma necessidade que os abastados raramente aceitam cumprir. E assim seguimos ouvindo diariamente a cantilena de ficção de parlamentares, presidentes, governadores, prefeitos e magistrados. Triste e sem solução a curto e médio prazos, o Brasil, apesar dos discursos, nunca esteve tão abaixo de tudo e de todos como agora.

Ávidos por propostas e ideias, 156 milhões de eleitores até este momento só conhecem o farto glossário de palavras chulas e adjetivos impublicáveis de parte dos candidatos, particularmente de um que se apresenta como salvador dos fortes e dos opressores. Os fracos e oprimidos estão condenados à morte por inanição ou por um desses vírus que se acostumaram a fazer ponto por aqui. Um dos maiores flagelos desse início de década – também da anterior -, a fome não aparece em discurso algum. Tenho a impressão de que, para os bem alimentados, barriga vazia é apenas um detalhe.

O problema é quando os que sofrem são esquecidos por aqueles que, voluntária ou involuntariamente, os fazem sofrer. Nessa quadra tenebrosa da vida do povo brasileiro, o Judiciário – poder arcaico, demasiadamente lento e, por vezes, inoperante – decidiu passar ao largo da crise. Em verdade, preferiu atender aos anseios de sua casta, composta por aproximadamente 250 mil pessoas, entre magistrados e servidores concursados. Representando segmentos da massa, os terceirizados – os que realmente trabalham – obviamente não fazem parte do convescote aprovado por unanimidade por suas excelências da Corte Suprema.

Não é nada, não é nada, são 18% a mais nos vencimentos nunca inferiores a dois dígitos. Absurdo? Não, desde que todos tivessem o mesmo direito ou que o reajuste fosse proporcional ao desempenho dos representantes da toga. Sabemos todos que não é. Se fosse, uma simples ordem de despejo não levaria décadas para ser julgada. Enfim, é o Brasil da medonha desigualdade que temos e teremos ainda por milênios. Não viverei até lá, mas lamento pelos que viverão. Embora não esconda meu patriotismo, há dias em que me sinto enojado do berço, consequentemente do gentílico assumido. Monstro que se alimenta da inocência do povo, a desigualdade é sinônimo de muito para poucos e pouco para muitos.

É com essa roupagem que se veste o Brasil verdugo que habitamos. Passei do tempo, mas, se ainda pudesse, optaria por ter nascido na PQP. Para justificar eventuais e incontroláveis desejos, não tenho pudor algum em copiar frases célebres de celebridades sérias do passado. Rui Barbosa, por exemplo, avaliava a política com a higiene dos países moralmente sadios. Quanto a politicalha – nosso caso, infelizmente -, Rui definia como a “malária dos povos de moralidade estragada”. Segundo nossa Águia de Haia, os abusos são todos compadres uns dos outros, e vivem da proteção que mutuamente se prestam. Nada mais atual. E o que dizer da flagrante desigualdade protagonizada pelo Supremo Tribunal? Mais uma vez recorro à sapiência de Rui Barbosa: “A pior ditadura é a do Judiciário. Contra ela não há a quem recorrer”.

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