Curta nossa página


O café maldito

Maldição de cigana faz Álcio, delegada e perito beberem chá de camomila

Publicado

Autor/Imagem:
Amilcar da Serra e Silva Netto - Texto e Imagem

Na noite anterior à tragédia, Álcio já estava sentindo que o destino estava contra ele.

Ao voltar para casa, cruzou o caminho de uma cigana misteriosa, que tentava ler sua sorte em troca de algumas moedas. Mas Álcio, cético e ranzinza, recusou rudemente:

— “Besteira, minha senhora. Essas coisas não existem!”

A cigana fixou nele um olhar profundo, seus dedos enrugados girando as moedas em sua mão. Com voz cavernosa, rogou uma maldição:

— “Então, que a voz dos espíritos te chame pelo nome, e que o rosto do destino se coloque sobre sua cabeça!”

Álcio riu e seguiu seu caminho, certo de que nada aconteceria. Ele estava errado.

Mais tarde, enquanto preparava um café e após ter assistido um filme sobre a maldição de uma cigana e se lembrar daquela que o havia rogado uma praga, o impossível aconteceu.

A cafeteira chiou e assobiou, mas não era um chiado qualquer.

— “Ááááálcioooo…”

O nome dele. A cafeteira estava chamando seu nome!

Álcio sentiu um arrepio na espinha. O coração disparou. Um suor frio escorreu por sua testa.

Foi então que, tomado pelo pânico, ele cometeu o maior erro de sua vida.

Abriu a cafeteira sob pressão máxima.

E então…

BOOOOOOOM!

Caos uniformizado
Na manhã seguinte, a delegada Dra. VIP chegou nervosa, com um crucifixo no pescoço e segurando um terço no bolso do terno, pronta para qualquer manifestação do além.

Dr. Copperfield, perito criminal e apreciador de pegadinhas, entrou logo atrás, com sua maleta e um olhar de quem já planejava zoar alguém.

Álcio, ainda em choque, segurava uma xícara vazia e repetia, trêmulo:

— “A cafeteira me chamou pelo nome!”

VIP empalideceu.

— “Isso tá parecendo coisa de encosto.”

Copperfield, que já estava segurando o riso, apenas analisava o teto, onde o café explodido havia formado uma imagem sinistra.

— “Uau. Isso está artisticamente macabro.”

VIP apertou os olhos para enxergar melhor. Sim. Olhos. Nariz. Um sorriso torto.

— “Pronto! Tá vendo?! Isso não é normal! Isso é coisa do além” — disse VIP, segurando o terço com mais força.

Copperfield pigarreou.

— “Antes de considerarmos o sobrenatural, que tal analisarmos as evidências?”

VIP cruzou os braços.

— “Se o liquidificador me chamar pelo nome, eu saio daqui gritando, Copperfield!”

Ele apenas sorriu e continuou.

Mistério do “Áálciooo”
Copperfield apontou para o que restou da cafeteira no chão.

— “Este era um exemplar de uma Moka italiana. Modelo clássico. Perfeito para um bom café… e para transformar cozinhas em zonas de guerra.”

Ele levantou três dedos:

1. A válvula de segurança estava entupida.
* sem escape de vapor, a pressão dentro da cafeteira aumentou drasticamente.

2. Álcio esqueceu a cafeteira no fogo.
* O tempo passou, a água evaporou, o café queimou e começou a carbonizar.

3. Ele abriu a tampa NA HORA ERRADA.
* quando a tampa foi girada, a diferença de pressão foi instantânea, causando um fenômeno chamado flash evaporation.

VIP franziu a testa.

— “Flash evaporation?”

Copperfield sorriu, adorava explicar.

— “Quando um líquido superaquecido sofre uma queda brusca de pressão, ele vira vapor INSTANTANEAMENTE, expandindo até 1.700 vezes o volume original. A água dentro da cafeteira se transformou em vapor explosivo, e… BOOM!”

VIP olhou para Álcio.

— “Parabéns. Você praticamente abriu um vulcão dentro da sua cozinha.”

Álcio engoliu em seco.

— “Mas… e o som? E a voz me chamando?”

Copperfield segurou a risada e continuou:

— “A pressão extrema da cafeteira criou um chiado intenso e irregular. Dependendo da estrutura da válvula e do vapor escapando pelas frestas, o som pode parecer um lamento… ou até um nome.”

VIP estreitou os olhos.

— “Onde você quer chegar?”

Copperfield sorriu.

Ele fez um pequeno sibilo com a boca, imitando o som de vapor:

— “Ááááálciooooooo…”

VIP piscou algumas vezes.

— “Filho da mãe.”
Álcio boquiaberto murmurou:

— “Então… então foi SÓ um chiado??!!”

Copperfield consentiu com a cabeça e um sorriso contido.

— “A mente humana gosta de preencher lacunas, meu caro. Você já estava sugestionado pela cigana. Quando ouviu um ruído parecido com seu nome, o cérebro fez o resto do trabalho.”

VIP revirou os olhos, já se sentindo uma idiota por ter acreditado no sobrenatural.

Mas aí, aconteceu.

— “Viiiiiiiipppp… Viiiiiiiippp…”

O som sibilante e grave veio do nada, ecoando pela cozinha como um chamado do além.

VIP deu um pulo e sacou a arma.

— “QUEM TÁ FALANDO?!”

Álcio gritou e se escondeu atrás da mesa tombada.

Copperfield, segurando a risada, tirou discretamente o celular do bolso.

— “Ops… esqueci de desligar meu despertador.”

VIP olhou para ele furiosa.

— “Você TÁ DE BRINCADEIRA?!”

Copperfield gargalhou.

— “Ah, delegada… eu configurei um alerta de notificação para o meu celular dizendo ‘Viiiiipppp… Viiiiiippppp’ com efeito de eco!”

Álcio olhou para ele boquiaberto.

— “Você é um demônio disfarçado, cara!”

VIP esfregou a testa, respirando fundo para não bater no perito.

Ela anotou no relatório:

Causa da explosão:
• Falha mecânica
• Superaquecimento
• Pressão excessiva
• Sugestão psicológica e pavor infundado
❓ Pegadinha de Copperfield – providências futuras necessárias (talvez corregedoria?)

Ela fechou o bloco de notas e olhou para Copperfield.

— “Vamos tomar café?”

Ele olhou para os estilhaços da cafeteira, depois para a mancha no teto, e murmurou:

— “Na dúvida… hoje eu vou de chá.”

E foi assim que, pela primeira vez na vida, Copperfield bebeu camomila.

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2025 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.