Curta nossa página


Sem clausura

O fim que nunca é final jamais tem aquela bolinha como ponto

Publicado

Autor/Imagem:
Luzia Couto - Foto Francisco Filipino

O fim não nos visita quando planejamos,
nem mesmo quando o chão parece ruir.
É apenas uma pausa furtiva,
uma vírgula no enredo que insistimos em sentir.
Não apaga histórias, tampouco silencia os sussurros
que bailam entre as lembranças do que fomos.

Dizemos adeus, mas o adeus mente.
É uma curva inesperada no relógio,
uma pausa entre um suspiro e outro,
porque tudo o que vivemos persiste,
mesmo no eco da última palavra pronunciada
ou na memória do beijo que ainda se agarra
à borda trêmula dos lábios.

O fim não é clausura,
é a porta que se fecha para uma janela
onde ainda deixamos nosso reflexo.
É o espaço em que continuamos a existir,
ainda que os passos não mais se cruzem.
O eco do que somos nunca se perde;
nossas pegadas desenham trilhas eternas
pela estrada de quem nos lembra.

Partimos, mas permanecemos.
Na dança sutil entre o que fomos e o que seremos,
guardados nos recantos da memória,
em promessas que ainda murmuram
pelos corredores da alma.
O fim não decreta ordem ao caos,
pois o amor é desordem que não finda.

E o amor não fecha suas asas;
se reinventa, molda-se ao vento,
desenha-se na chuva ou no sol que ousou nos tocar.
O tempo pode desgastar a pele e alterar formas,
mas há algo que o tempo não apaga:
o traço indelével de quem fomos,
e isso permanecerá — imortal.

O fim que nunca é fim
é o prelúdio de tudo o que resta,
nos recessos mais profundos da alma.
Entre cada esquina onde ainda nos amamos,
mesmo enquanto o relógio insiste em correr.

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2025 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.