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A Mulher Vulcão

‘Ela fumava quatro cigarros em um; e na pós-Páscoa, fez-se chaminé’

Publicado

Autor/Imagem:
Gilberto Motta - Texto e Imagem

“Amizade não é matéria. Amigo não precisa estar. Amiga precisa ser. Fogo de vulcão. Fumaça de sonhos, cinzas de ilusão” (Filó da Guarda, marcadora de ponto do Maracatu Meninas G)

…………….

Percebeu que não fumava há anos. O câncer do pai e a falta de ar da mãe lhe deram alguma referência. Depois, havia a lembrança da história da morte do cavalo do cowboy da propaganda do Mallboro na TV, nos anos 60/70. Câncer nos pulmões; sim! Nos pulmões do cowboy e do seu fiel cavalado garanhão. Sina de inveterados viciados tabacantes. Tudo no finalzinho dos loucos anos 60. “Taí mais um ótimo e verdadeiro argumento na defesa da macô, cara! A parada é natural, sintonia pura com o universo e curaria até o cavalo do Mallboro…na boa, meu!”, deixaria escrito no seu Diário de Bordo; um único caderno espiral escrito à mão encontrado ao lado dos restos da fogueira naquela manhã após o Luau derradeiro. O caderno sobrevivente, depois de jogar os outros 21 na “fogueira dos sonhos”, em madrugada de reggae na praia paradisíaca.

Final de domingo de Páscoa. O cara chegou à feirinha do rio da Madre no meio do dia. Sol de rachar. Parou, sentou-se na única cadeira disponível. Observou as pessoas dançando na areia e o som rolando ao vivo no pequeno palco. Pensou em metaversos, em dimensões paralelas e percebeu que dimensão era mesmo aquela. Pessoas conhecidas vieram dar-lhe boas novas.

O cara lembrou-se de tantas outras Páscoas. Olhou para ao lado e lá estava ela: A Mulher Vulcão. Fumava quatro Mallboros de uma só vez.

Chaminé absoluto. E o som do “Maracatu das Meninas G” dançando a tarde fumegante de alto Verão e o ar parado feito olho de peixe morto assado.

E a fumaça cobrindo a praia, o Costão, o Morro da Pedra do Urubu. Tudo.

Mesmo curtindo a pior ressaca dos últimos quarenta séculos, o cara saiu da rede naquela tarde/labaredas/chamas fumegantes/calor de 400 graus.

Foi ao bar/trapiche na beira do rio, sentou-se na mesa de sempre e ficou olhando fixo/vago para os reflexos do Sol de Meio-dia incendiando as águas do rio da Madre, em primeiro plano; e lá no plano fundo, as ondas branquinhas do mar quebrando na grande praia da Guarda. Súbito, levantou-se e pediu licença:

– Oi, Que tal?… Podes me dar um cigarro?

– Sim, claro!-respondeu a garota dourada com língua, olhos e cabelos de fogo.

Era ela novamente cruzando o caminho do cara que odiava cigarros industrializados. Elazinha mesmo, em mais carnes do que ossos: A Mulher Vulcão.

“Fumava quatro Mallboros de uma só vez. Chaminé absoluto”.

Dimensões paralelas, metaversos.

E a segunda-feira Pós-Páscoa explodiu feito vulcão.

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