Tentar e tentar
Amante que cansa, democracia vale à exaustão
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Hoje eu venho aqui para fazer uma confissão simples, mas honesta: a democracia cansa.
Cansa a gente ver tanta notícia contraditória.
Cansa o barulho das redes sociais, o bate-boca político, a polarização.
Cansa a sensação de que estamos sempre recomeçando, sempre lutando pelas mesmas pautas.
Cansa, sim.
Mas — e aqui eu peço atenção — esse cansaço é um privilégio.
Porque o silêncio da ditadura parece calmo, mas é opressivo.
Não é paz: é medo.
É o medo de escrever o que se pensa.
De cantar o que se sente.
De amar quem se ama.
De enterrar os próprios mortos.
A democracia nos enche de ruído, mas é o ruído da vida pulsando.
É o som da discordância, da crítica, da liberdade.
É a gente podendo dizer que tá cansada — sem medo de ser presa, calada ou torturada por isso.
E é por isso que eu digo: entre o cansaço da liberdade e o silêncio da opressão, eu escolho o barulho da democracia.
Eu escolho a dúvida, o debate, o voto.
Eu escolho me decepcionar e tentar de novo.
Porque é no meio dessa bagunça que a gente constrói justiça.
É no cansaço da participação que mora a dignidade do povo.
Então, sim.
Democracia cansa.
Mas vale cada segundo de exaustão.