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Todo sangue é vermelho

A Intolerância precisa ser rejeitada, porque ela destrói vidas

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Autor/Imagem:
Tania Miranda - Foto Francisco Filipino

Ontem, conversando com minha cara metade, fiquei sabendo que dois filhos de um conhecido meu de infância estão internados com tuberculose. E outra filha, que tem filhos pequenos, veio até minha mãe pedir uma panela, mesmo velha, para que pudesse preparar refeições para ela e sua prole. É justo dizer que toda a família é viciada…

Um dos irmãos deste grupo em questão faleceu a algum tempo atrás. E os dois que estão recebendo tratamento médico seguirão o irmão em breve. Na sequência, sua prole poderá seguir os passos de seus ascendentes. Mas como isso aconteceu? Não há como mudar seu destino? Talvez…

Tudo se iniciou a algum tempo atrás, com os genitores das pessoas em questão. Era um casal birracial… o marido branco, a esposa, negra. E duas famílias intolerantes. Nem os pais do rapaz queriam uma nora negra, nem os pais da moça queriam um genro branco. Pureza de raça, segundo eles. E cada família hostilizava o cônjuge que não se encaixava no perfil desejado. Os dois tentaram viver seu amor, apesar da torcida contra… e do clima de hostilidade entre as famílias…

Podemos dizer que esse romance foi uma releitura de “Romeu e Julieta”, ao menos até certo ponto. Os Montecchio e os Capuleto estavam bem representados pelas duas famílias. No meio, o casal de apaixonados, tentando seguir em frente, mesmo com toda adversidade. Mas o ser humano é fraco… chegou um momento em que a vida ficou insustentável para o casal e, mesmo tendo filhos pequenos, acabaram por se separar. Nem é necessário dizer que as crianças ficaram com a mãe. Afinal, eram negros, e a avó paterna não os admitiria em seu seio familiar…

A esposa abandonada procurou na garrafa consolo para o coração partido. O esposo ainda tentou auxiliar sua amada, mesmo à revelia da família. Mas é claro que os filhos estavam revoltados com a situação. Pré-adolescentes, passaram a hostilizar seu genitor. Que em determinado momento, acabou por desistir da família…

Embora esporadicamente tentasse auxiliar a esposa, não foi capaz de tirá-la do vício, que foi evoluindo até chegar a drogas mais pesadas. E a prole passou a acompanhá-la. O rapaz, em determinado momento, resolveu refazer sua vida, e encontrou uma nova companheira… branca, desta vez.

O choque para a ex foi grande, e acabou por cair no abismo de uma vez, vindo a falecer de desgosto depois de algum tempo. Sua prole? Chafurdou no vício, pois não havia ninguém a estender-lhes a mão…

O pai desistiu de seus filhos. Quando deveria ter-lhes estendido a mão, dar-lhes apoio… não estou dizendo que, se ele tentasse cuidar de suas crianças, elas sairiam do mundo de sombras em que se encontram. Mas pelo menos teria tentado mudar a sorte de seus descendentes. Não foi o que fez. Nem mesmo o funeral de seu filho foi assistir. E também jamais retornou para dar uma palavra de apoio que fosse para os sobreviventes.

Não posso julgá-lo. Não sei o que se passa nem em sua vida nem na de seus filhos…

O que estou tentando dizer? Que quando a intolerância predomina em uma ou mais famílias, o resultado é a destruição da alma das pessoas. O racismo é algo irracional. Afinal, por baixo da pele, todos somos exatamente iguais. O sangue é vermelho para todos…

Jamais devemos desistir daqueles que foram entregues aos nossos cuidados. Nem sempre o caminho é fácil de seguir, mas se abrirmos mão de nossa missão, tudo perderá sentido. Muitas vezes, guiados por uma fé equivocada, tomamos decisões que afetam a todos ao nosso redor. Sim, as duas famílias que destruíram a vida dos dois jovens e seus filhos eram religiosas fervorosas… uma, evangélica, a outra, católica…

Independentemente da fé que cada pessoa professa, temos que ter em nosso coração muito Amor por aqueles que nos são caros. Se ofertarmos Amor a eles, sem impormos condições, tenha certeza de que conseguiremos guiá-los para a Luz… mas temos que acreditar que somos capazes, e lutar contra as intempéries do mar bravio que é a vida…

Não é uma tarefa fácil. Mas, se seguirmos em frente em nossa missão, sem esmorecer, podemos até mesmo não lograr êxito em nossa empreitada, mas teremos consciência que fizemos tudo ao nosso alcance. Iluminamos o caminho para aqueles que se encontravam perdidos na Penumbra. Seguir a Luz ou não é decisão de cada um…

Sejamos o Farol que ilumina o caminho daqueles que seguem junto ao precipício. E vamos estender a mão para que estes se sintam acolhidos e desejem caminhar ao nosso lado. Mostremos Compaixão e Amor a todos que se encontram à nossa volta. E tenha certeza de que todos juntos alcançaremos o tão sonhado Paraíso…

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