Circo mambembe
Dondoca das bets transforma a CPI em um palco de show sertanejo
Publicado
em
Qual o papel do Congresso Nacional? Está escrito no texto constitucional que cabe ao Congresso, composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, elaborar, discutir, aprovar e modificar leis, além de fiscalizar o Executivo e aprovar o Orçamento da União. Em síntese, é o órgão responsável por criar, alterar e revogar as leis que regem o país. Como a maioria provavelmente tem ouvidos moucos e olhos voltados para o mal, faz tempo que os parlamentares que compõem as bancadas majoritárias da Câmara e do Senado só brincam de legislar.
Os dois ou três em dias que passam em Brasília são normalmente utilizados para tentar emparedar o governo federal. Quando sobra tempo, eles também elaboram e participam de protestos internos e de manifestações externas destinadas a tumultuar o país ou a jogar lenha na fogueira da vaidade daquele a quem eles chamam de mito. Na prática, faz tempo que o Parlamento brasileiro deixou de justificar sua existência. Hoje, boa parte dos brasileiros vê a sede do Poder Legislativo somente como um dos mais famosos cartões postais do Brasil. Às vezes, como um circo mambembe. Nada mais!
E de quem é a culpa? Talvez dos deputados e senadores. Digo talvez, porque eles não estariam usando o mandato para brincar com a sociedade não fosse a parcela de eleitores também brincalhões que os colocaram na Câmara ou no Senado. Parte boa de qualquer república séria, a oposição do Brasil tem se prestado ao que há de pior em uma nação que se imagina próxima do Primeiro Mundo. Reconhecidamente, o mandatário idolatrado nas brincadeiras do Congresso nada fez de útil para o país e para seu povo. Na verdade, só contribuiu para a mortalidade decorrente da Covid-19.
Entretanto, qualquer passo do atual presidente é motivo de críticas. Será que se trata de mais um dos estágios da amnésia política que invadiu a Câmara e o Senado desde janeiro de 2023? Certamente que sim! O ápice da brincadeira dos senhores e das senhoras parlamentares, algo como palhaçada explícita, ocorreu esta semana, durante mais uma oitiva da CPI das Bets. A convocada da vez foi a dondoca Virgínia Fonseca, a influencer suspeita de ganhar dinheiro com a desgraça alheia.
Com cara de bobalhona esperta e disposta a mostrar aos inquisidores que só tinha 11 anos, a influenciadora digital (apelido de quem não produz nada de relevante) e mulher do cantor (?) Zé Felipe conseguiu transformar a ala das comissões do Senado em um grande palco de tietagem. De caso pensado, suas excelências esqueceram que a pauta era séria e capaz de minimizar prejuízos a milhões de brasileiros e idiotizaram a sessão da CPI, gratuitamente convertida em um grande show sertanejo, com a presença ilustre de senadores e senadoras mais preocupados com as fotos e com o autógrafo. Lamentável para uma casa que já abrigou pessoas que deixaram marcas e não rastros.
Assistindo à espetacularizada sessão, indaguei aos meus botões se, em lugar de uma riquinha insossa, a pessoa ouvida na CPI das Bets fosse um pobre bebendo água em um copo de plástico. Será que, após uma ou duas respostas ridículas, as excelências também diriam que ele deu um exemplo de coragem? Foi a avaliação que fizeram da dondoca, cuja coragem foi divulgar campanhas publicitárias relacionadas com jogos de azar e apostas online. Pelo menos a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), reagiu à fuleragem. Ela só esqueceu de sugerir à madame alguma coisa útil para a sociedade. Como a Virgínia aprecia o visual infantil, por que não abrir uma creche para bebês Reborns?
