Canção do exílio (com ipês) e da saudade de Brasília

Minha terra tem ipês,
Onde pousam bem-te-vis.
E o colorido das flores
Enche o céu de colibris.

As manhãs têm lusco-fusco,
As tardes têm arrebol.
Não dá mofo nos armários,
Brasília tem muito sol.

Nos três anos que estive
Longe dessa Catedral,
Cada canto que vivi,
Era ausência – era sinal.

Via o Eixo Monumental,
Os domingos no Cerrado.
O céu lindo sem igual,
E o povo tão misturado.

Minha terra tem respeito
Por quem cruza a faixa a pé.
Tem política nos ventos,
E no ar, a mesma fé.

A umidade de outras terras
mofava meu coração.
Se sangra aqui o nariz,
Mas é só numa estação.

Não permita Deus que eu parta
Deixando longe o planalto.
Onde o céu beija o concreto,
E a esperança ergue o asfalto.