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Do Império Romano à América de hoje (Final)

Um deus decaído e a revelação histórica de que o mal nunca morre

Publicado

Autor/Imagem:
J. Emiliano Cruz - Foto Produção Irene Araújo

Pela primeira vez, Hermes hesitou, preferindo ficar em silêncio ao invés de continuar a história.

-Espere, disse Carlos, nervoso. -Usted disse que eu não poderia perguntar como sabes de tudo o que me contou antes de terminar a história. Bem, parece que ela terminou…e então, podes falar sobre isso agora?

-Disse sim, mi amigo! Mas ainda falta um pedacito da história…tenha mais um pouco de paciência, pediu Hermes. continuando o relato.

-Infelizmente, Hades não mentiu, Nero retornou para o seio da humanidade e voltou a fazer parte da sua história. A primeira vez foi na Alemanha, onde incorporou um sujeito de bigodinho esquisito que gesticulava e gritava muito!

-Carácolis…Dios! E já houve uma segunda vez?

-Já sim, mi amigo! E não está muito difícil para usted imaginar quando e onde Nero retornou… e quem ele incorporou desta vez, usted não achas?

Carlos arregalou os olhos e suou frio, respondendo a pergunta do amigo com outra pergunta:

-Você quer dizer que… Nero é ele???

-Exatamente, o homem do topete que enviou nosotros para cá!

-Dios mío! Eu devia ter imaginado isso bem antes…então nosotros e a humanidade inteira estamos em palpos de aranha?

-Estamos mesmo, hermano! Bem, agora posso te dizer como sei de toda a história em detalhes…ainda queres saber sobre isso?

-Claro que sim, Hermes! Fiquei muy abalado com a tua revelação, mas evidente que estou curioso sobre isso!

-Bem, Carlos, para te explicar isso, temos que voltar a Roma e ao momento em que Nero concluiu o ritual proposto por Hades e tirou a sua primeira vida em troca das futuras reincorporações.

Acontece que Zeus, o deus dos deuses, flagrou Hades fazendo o sortilégio que garantiria os futuros retornos de Nero à vida, e ele não gostou nada da interferência do irmão no futuro dos mortais.

Zeus não podia desfazer o que Hades havia feito, mas decidiu castigar o deus das sombras por essa interferência indevida na história dos humanos.

-E qual foi o castigo que ele deu ao seu maléfico irmão?

-Zeus determinou que Hades perdesse os seus poderes divinos e, sob a forma de um simples mortal, retornasse junto com Nero para os contextos da humanidade que foram escolhidos pelo próprio Hades.

-Não deixa de ser um bom castigo, mas não achas que ele merecia algo ainda pior?

-Talvez, mi amigo, mas ocorre que Hades deveria voltar sempre como uma vítima das ações de Nero.

Na Alemanha, ele foi um prisioneiro de um campo de concentração em virtude da sua origem étnica e, aqui na América, ele voltou na forma de um imigrante ilegal.

-Acho muito bem feito, Hermes! Hades é o culpado por todas as desgraças que esses três personagens monstruosos já causaram e ainda estão causando à humanidade!

-Realmente, Carlos, o que Hades fez não tem perdão e todo sofrimento sempre será pouco para ele!

-Por supuesto, hermano…mas, afinal, o que isso tem a ver com usted saber de toda essa história nos mínimos detalhes?

Hermes olhou desconsolado para o companheiro de infortúnio e, pesarosamente, confessou:

-Na verdade, hermano, antes de ser Hermes, eu fui Hades!

Carlos, petrificado, ficou mudo por quase dois minutos, olhando incrédulo para o seu novo amigo e companheiro de confinamento. Depois, conseguiu balbuciar:

-Que brincadeira é essa, Hermes?

-Sei que parece loucura, mas por isso vim parar aqui em Guantánamo. Ainda atordoado, Carlos abriu os braços, pedindo mais explicações.

-Quando meu irmão Zeus me castigou e me tornou mortal em espírito, minha natureza mudou. Deixei de ver as coisas como o deus das sombras que fui porque o sofrimento me fez ter outra percepção do mundo e da humanidade.

Percebi que o pensamento central de Sêneca é a visão que deve orientar todas as existências e a vida em si, pois somente assim poderá existir um mundo que valha à pena.

-Mas se não existe mais um deus das sombras e do mal, por que o mal continua a existir e a atormentar a humanidade?

-Porque, infelizmente, Nero e os seus protótipos pelo mundo afora incorporaram a banalidade do mal e hoje se guiam por esse sentimento em essência pura, não havendo mais necessidade de nenhum deus das sombras para inspirá-los.

E, para a desgraça da humanidade, tal sentimento tornou-se contagioso como uma praga que contamina cada vez mais os espíritos de uma imensa multidão de mortais.

Consternado e abatido, Carlos ainda teve forças para perguntar:

-Então…não há mais esperança para nosotros que não estamos contaminados por esse maldito vírus?

-Hermano, tanto há esperança que eu encontrei usted para contar essa história.

Mas assim como ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, agora não há mais deuses que possam interferir em nosso destino. Essa luta deve ser travada entre duas parcelas distintas da humanidade…e cada indivíduo terá necessariamente que se posicionar a favor da vida ou da morte.

Emocionados, os dois amigos se abraçaram e olharam juntos por cima dos muros da prisão.

…………….

Fim

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