Reunião de bêbados
De recuo em recuo, Trump corre o risco de voltar a ser o mal aprendiz
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Um dos mais importantes presidentes que os norte-americanos já tiveram, Abraham Lincoln, além de político na essência da palavra, era um frasista dos bons. Em uma de suas expressões mais famosas e corriqueiras, o mandatário dizia que “É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do que falar e acabar com a dúvida”. Republicano como Lincoln, Donald Trump não seguiu os conselhos do correligionário e hoje paga caro pelos desatinos de sua conhecida e felina língua de trapo.
Na corda bamba, seu governo lembra uma reunião de bêbados, onde todos falam sobre tudo e ninguém entende nada. Salvaguardado o modus operandi utilizado para fazer fortuna, Trump incorporou de vez um daqueles azarados personagens do cotidiano suburbano. Se o sujeito põe galocha, a temperatura chega a 40 graus; se põe camiseta regata, tem de enfrentar o trem ou o buzão carregado com neve de dez centímetros. Próximo dos primeiros seis meses de gestão, ele ainda não disse ao que veio. Pelo contrário. Está quase indo. Elon Musk já foi.
Parece que a trombose no cérebro e na língua confusa e vulgar também atingiu as mãos e a pena da caneta pontuda do presidente republicano. Encastelado na Casa Branca e agora emparedado pelo Judiciário americano, Trump vem experimentando sacudidelas do Norte e do Sul em suas orelhadas insanas. São tantas as idas e vindas políticas e econômicas que ele, mesmo contra a vontade, se vê obrigado a, quase diariamente, recuar em várias de suas decisões, principalmente quando o tema descamba para o tarifaço contra outros países.
A expressiva quantidade de recuos é, para alguns de seus adversários e até de ex-eleitores, uma séria ameaça para o presidente linguarudo. Dizem as boas e más línguas que, de tanto amarelar, Trump corre o risco de voltar a ser o aprendiz. O novo modismo dos norte-americanos chegou ao Brasil que ela ama odiar via redes sociais, as mesmas que os seguidores do trumpismo usam para atacar antagônicos. Resumido pela sigla “TACO”, a expressão “Trump Always Chickens Out” viralizou nos Estados Unidos depois do vaivém do tarifaço, retomado temporariamente na tarde dessa quinta-feira (29).
Na tradução livre, “TACO” significa “Trump Sempre Arrega/Amarela”. No português mais escorreito, a elocução quer dizer o início do fim de uma obra mal começada e, portanto, com epílogo já desenhado. Não à toa, o menino maluquinho Elon Musk pulou fora do barco antes do naufrágio anunciado. Independentemente das reações do mundo menos louco, Trump, a exemplo do que ocorreu recentemente no Brasil, continua governando como se estivesse acima de tudo e de todos, inclusive dos governantes de nações hoje tão ou mais democráticas do que os EUA. É o dono do mundo. Até quando? Até breve.
Desde que retornou à Casa Branca, em janeiro deste ano, não tem feito outra coisa senão criar conflitos. De comportamento belicoso, grosseiro, sádico e, às vezes, infame como os genocidas que defende, ele agora, para atender “parceiros” do Hemisfério Sul, pretende estabelecer sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, que não admite a farra das fake News da extrema-direita norte-americana nas redes sociais do Brasil. Se tivesse pelo menos lido Abraham Lincoln, Trump hoje saberia que “Ninguém é suficientemente competente para governar outra pessoa sem o seu consentimento”. O clã Bolsonaro precisa informar a Donald Trump e a seu secretário Marco Rubio que o Brasil não é mais um filme pornô com trilha de Bossa Nova.
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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais