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Humor negro

Prisão de 8 anos para Léo Lins vira alerta contra racismo e discurso de ódio

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Autor/Imagem:
@donairene13 - Foto de Arquivo/Reprodução do X

Li na internet que o comediante Léo Lins foi condenado a 8 anos de prisão por “falas preconceituosas em shows”. Sim, era exatamente isso que dizia o título da matéria — e, pra ser sincera, já comecei a ler desconfiada. “Falas preconceituosas”? É impressionante como a imprensa ainda suaviza o que é crime. A impressão que se dá é que ele só foi punido por ser “politicamente incorreto”. Mas não. Quando fui me inteirar de verdade sobre o caso, a realidade era muito mais grave: Léo Lins foi condenado por racismo e discurso de ódio. Repetindo pra quem ainda insiste em relativizar — racismo e discurso de ódio.

Pra quem não sabe, Léo Lins é aquele homem branco, cis, hétero, olhos claros, carioca, 43 anos. Um sujeito que nunca sofreu racismo, nem capacitismo, nem misoginia, nem preconceito de origem. Nunca foi humilhado publicamente pela cor da pele, pela orientação sexual, por uma deficiência ou por sua religião. Nunca foi alvo de piadas por ser nordestino, por viver com HIV, ou por ter nascido indígena. Mas isso não o impediu de transformar justamente essas existências — vidas reais, dores reais — em “piadas” nojentas e violentas.

E onde? Aqui. No Brasil. No país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo. No país onde mulheres ganham menos que homens pra fazer exatamente o mesmo trabalho. Onde negras e negros são a maioria entre os empobrecidos, os assassinados, os encarcerados. Onde mulheres são demitidas logo após voltarem da licença-maternidade. E é nesse cenário brutal que esse cara sobe num palco, pega um microfone e debocha da dor de quem já carrega peso demais.

E o pior é que ainda tem gente que defende. Que chama isso de “liberdade de expressão”. Que reclama de censura como se o palco fosse um santuário inviolável. Mas eu vou repetir pra que fique bem claro: liberdade de expressão não é licença pra cometer crime. Não existe direito absoluto. Ninguém pode sair por aí dizendo o que quiser sem ser responsabilizado e sofrer as consequências. E, sim, fazer piada com populações historicamente violentadas é uma escolha — criminosa.

A verdade é que o Léo Lins e os que o defendem confundem liberdade com impunidade. Eles querem o direito de humilhar, escarnecer, rir da desgraça alheia — e sair ovacionados por isso. Mas acabou. A conta chegou. Ele não foi condenado por ser “polêmico”, nem por fazer humor “pesado”. Ele foi condenado por ser criminoso. E ainda tem gente tratando isso como injustiça.

Não. A injustiça é ter que explicar, em pleno 2025, que racismo é crime. Que discurso de ódio não é piada. A injustiça é ver gente sendo humilhada em nome do riso de uma plateia covarde.

Então, que fique claro: o palco não é terra sem lei. E se a justiça, pela primeira vez em muito tempo, resolveu agir, que sirva de alerta. Porque o que Léo Lins fazia não era comédia. Era violência — travestida de sarcasmo. E agora, finalmente, vai pagar por isso.

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