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Repartindo o bolo

Sobreviver não é só questão biológica; é política

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Autor/Imagem:
Emanuelle Nascimento - Foto Francisco Filipino

Descobriram que o Bolsa Família salva vidas.

Mas não por milagre.

Por prato cheio. Por gás para cozinhar. Por um pouco menos de desespero.

Por existir onde o Estado, o SUS e a dignidade às vezes não chegam.

Um estudo da Fiocruz mostrou: pessoas com transtornos mentais que recebem o Bolsa Família têm menos chance de morrer. Onze por cento a menos por causas naturais.

Sete por cento no total. Mais impacto entre mulheres e jovens de 10 a 24 anos.

Traduzindo: quando se coloca comida na mesa de quem sofre, a morte dá um passo atrás.

Quando se transfere renda, se transfere também esperança, tempo, tratamento.

Um pouco de ar para quem já respira com dificuldade.

Mas isso choca, né? Porque a elite brasileira ainda acredita que saúde mental é meditação e flor no escritório.

Não é.

É acesso, acolhimento, dinheiro pra passagem, calma pra tomar o remédio, tempo pra ser tratado sem pressa.

É um sistema que precisa parar de achar que pobre deprimido é preguiçoso, e rico em burnout é “visionário cansado”.

É parar de receitar ansiolítico e começar a distribuir justiça social.

Foucault já dizia: o controle dos corpos também se faz pelo descaso.

E Goffman gritaria, do hospício à favela: quem é estigmatizado morre duas vezes: uma no silêncio, outra nas estatísticas.

A grande descoberta da Fiocruz, no fundo, não é só médica é moral.

Um país que investe em cuidado vive mais.

Um povo que é alimentado adoece menos.

E o amor, às vezes, tem nome e sobrenome: transferência de renda.

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