Curta nossa página


Filme repetido

Como nos morros do Rio, a ordem no Congresso é dominar geral

Publicado

Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto Lula Marques/ABr

Nada melhor para fazer Jair Bolsonaro fingir mansidão do que a careca reluzente do xerife Xandão indicando que o fim do túnel está próximo. Figura central na vergonhosa, violenta, criminosa e quase sanguinária trama golpista contra a democracia, particularmente contra a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo assim o senhor de todas as mentiras continua idolatrado por expressiva parcela da população nacional. É verdade que, embora significativo, esse pedaço não representa a maioria dos cerca de 218 milhões de brasileiros. Entretanto, boa parte dessa porção é traduzida pela elite que, se utilizando de suas ações tacanhas, opressoras e dominadoras, é formadora de opinião e, por consequência, se define como símbolo do poder.

É triste afirmar, mas Bolsonaro é hoje o principal entrave para a emergência de uma liderança democrática no país. O sonho dourado é o comando da burguesia colonialista e antidemocrática. No Brasil atual, a elite é retratada prioritariamente pelo empresariado, notadamente os do agronegócio, muitos deles com assento nos governos estaduais e municipais, na Câmara dos Deputados, no Senado Federal e nos parlamentos estaduais e municipais. Ou seja, de alguma maneira ela (a elite) já detém o poder. Onde quer que estejam, o modus operandi de suas lideranças é sempre o mesmo: desqualificar, desacreditar, inibir e, em alguns casos, impedir o trabalho de governantes que se opõem ao oportunismo dos conservadores.

Infelizmente o retrato simbólico vem se transformando em mosaico real, algo como uma ameaça concreta. E essa ameaça não se limita a apoiar integralmente as barbáries prometidas por Bolsonaro, tampouco a defender pública e legislativamente os loucos bárbaros, isto é, os executores das barbáries. Mesmo inelegível e em vias de ser preso, o ex-presidente tem convocado os maluquetes espalhados pelo país para ajudarem a extrema-direita a eleger em 2026 a quase totalidade dos membros das duas casas do Congresso Nacional, particularmente os do Senado.

O filme não é novo. Ele está em cartaz desde janeiro de 2018, por ocasião da posse de Bolsonaro na Presidência da República. Apesar da vitória de Lula em 2022, pouca coisa mudou de lá para cá. Os artistas antidemocratas são os mesmos. A diferença é que agora eles querem aparecer sozinhos. Além de emparedar o Poder Judiciário, ignorar o Executivo e transformar o povo ordeiro em corja, os astros do Olimpo denominado Congresso estão determinados a apagar todo tipo de sombra na luta pelo retorno da ditadura. Por isso, começam a planejar as novas leis do cercadinho antes mesmo das eleições de 2026.

Como nos morros do Rio de Janeiro e nas comunidades das grandes cidades, a ordem é dominar geral. Diriam os mais estultos que “Si hay Gobierno Lula, soy contra”. Acostumados com a vassalagem e associados à loucura do “chefe”, a maioria dos deputados e senadores parece imaginar o Brasil do futuro como uma terra sem lei, na qual eles mandariam de cabo a rabo. O rabo todos sabem de quem seria. Se alguém duvida disso, basta olhar em volta de si mesmo para perceber que a disposição da maioria dos atuais congressistas é deixar o Brasil afundar no buraco negro que começou a ser aberto por Bolsonaro. Resumindo, contra a falsa mansidão só as garras afiadas do eleitor na próxima eleição geral.

……………………..

Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

Comentar

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2025 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.