Que personagem...
Paladino da moral pública é o típico roteirista de tragicomédia tupiniquim
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Tenho evitado falar sobre esse assunto, confesso. É que o Congresso Nacional me dá coceira e taquicardia. Mas chega uma hora que não dá mais pra fugir, a indignação pula no nosso colo feito gato pidão. Então vamos lá: é hora de falar sobre ele… Hugo Motta, o atual presidente da Câmara dos Deputados, esse novo personagem da política nacional que vem se revelando com a sutileza de um trator desgovernado.
Antes de tudo, é bom contextualizar, né? Durante o governo anterior, o do Jair, houve uma manobra bizarra e absurda: o chefe do Executivo decidiu que governar era overrated e terceirizou suas funções para o Congresso. Isso mesmo. O orçamento da União foi basicamente largado no colo dos parlamentares como se fosse uma caixa de Lego. Eles montavam, desmontavam, escondiam peças e, claro, faziam o que bem entendiam. Foi a farra do boi orçamentário, o surgimento do chamado orçamento secreto.
Pois bem. Agora que o governo mudou e Lula tenta, vejam só, governar e exercer o papel mais óbvio do poder executivo — o de executar o orçamento — o Congresso, liderado por figuras como Hugo Motta, entrou em crise de abstinência. É como se tivessem perdido o controle da Netflix no meio da série favorita. A chiadeira é grande.
Hugo Motta, em especial, tem se esmerado na arte do chilique político. Virou praticamente um influenciador da resistência orçamentária. Outro dia, junto ao glorioso centrão, aprovou um requerimento de urgência para votar um projeto que revoga o decreto de Lula sobre o IOF. E fez isso com um discurso moralista, cheio de frases de efeito, preocupado com o povo, com os pobres, com os “excessos do governo”. Um discurso tão carregado de falsidade performática que, se você fechasse os olhos, podia até confundir com uma homilia.
O problema é que enquanto Hugo Motta sobe na tribuna com seu figurino de paladino da moral pública, nos bastidores ele atua como um típico roteirista de tragicomédia. Basta lembrar que o mesmo deputado apresentou um projeto de lei que permitiria aos parlamentares acumular aposentadoria com o salário do mandato. Isso mesmo. Enquanto prega o corte de gastos, defende um sistema de remuneração estilo self-service pra classe política: pega o salário, pega a aposentadoria, e se sobrar espaço no prato, uma emenda extra.
É ou não é de arrancar os cabelos? Hugo Motta quer cortar gastos — dos outros. Ele prega austeridade — para os pobres. Ele fala em moralidade — com a mão na gaveta das regalias.
Mas sigamos, né? O Brasil é esse reality show sem pausa, onde o Hugo Motta virou protagonista. E a gente? A gente segue pagando ingresso — e os salários dos atores.