Coração dividido
Curtindo o Maranhão, sofro com chuva que afeta gaúcho
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Estou no Maranhão, na cidade onde passei minha infância. Caminho por ruas que reconheço com os olhos fechados, sinto no ar o cheiro da minha história, das brincadeiras no quintal, dos verões que pareciam infinitos. Mas, mesmo cercada por tudo isso, meu coração está longe. Meu coração está no Rio Grande do Sul.
Foi lá que vivi experiências que me marcaram profundamente. Lá nasceu minha filha, que carrega no registro civil e na alma um pouco desse chão. E por causa dela, por tudo que vivemos e construímos, sinto que estou ligada ao Sul de maneira irreversível.
Acompanho com angústia as notícias sobre o nível do Guaíba, que insiste em subir como se quisesse cobrar da cidade uma dívida nunca paga. As enchentes deste ano trazem de volta o medo, a perda, a sensação de desamparo. O mais difícil é perceber que os mesmos erros do passado estão sendo repetidos. Ainda vejo sacos de areia empilhados como se fossem barreiras suficientes, casas de bombas que não funcionam quando mais são necessárias, respostas improvisadas a uma tragédia anunciada.
Penso nos amigos que fiz. Pessoas que, no ano passado, perderam tanto. Algumas ainda tentavam reconstruir o que a água levou quando veio outro alerta, outra sirene, outro susto. O cansaço no olhar de quem já chorou demais é o que mais me dói.
Mesmo aqui, rodeada pela minha origem, sinto saudade e dor por uma terra que também aprendi a amar. O Sul está em mim. E quando o Sul sofre, uma parte de mim sofre junto.