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Ladrão do tempo

Entre as brasas do nunca mais da constelação acesa por engano

Publicado

Autor/Imagem:
Luzia Couto - Foto Francisco Filipino

Fomos um eclipse na memória do tempo,
uma constelação acesa por engano.
Nosso amor — orquídea que floresceu no inverno —
desabrochou onde jamais deveria viver.

Seu adeus foi um sopro no vitral da minha alma,
e eu, estilhaçado, cantei silêncio aos cacos.
Cada beijo que partiu deixou um eco suspenso,
como sinos em catedrais que já não têm fiéis.

Os dias passaram em círculos,
como satélites órfãos girando um planeta esquecido.
O relógio foi aprendiz de ladrão:
roubou-me tardes em que seu nome ainda ardia.

Nosso afeto era um cometa —
raro, incandescente, condenado ao breve.
Não coube entre as regras do mundo,
porque só os astros entendem quando um amor se exila no céu.

Agora, somos brisa que o outono não segura,
e estrelas naufragadas na retina um do outro.
Mas ainda te sinto, no entrelaço das marés,
onde o oceano beija a areia… e recua em saudade.

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