Donos do mundo?
‘Tio Sam’ precisa acabar com sua retórica ensaiada
Publicado
em
Ao longo da história recente, os Estados Unidos se comportam como se fossem os donos absolutos do mundo, um xerife global que ninguém pediu nem autorizou. Essa arrogância, alimentada por um sentimento exagerado de superioridade moral, militar e econômica, faz com que se intrometam em conflitos e assuntos que não lhes dizem respeito, ignorando completamente o direito das nações à sua soberania. Sob a máscara hipócrita da “defesa da democracia”, do “combate ao terrorismo” ou da “proteção dos direitos humanos”, na verdade, escondem interesses geopolíticos, econômicos e estratégicos que custam vidas inocentes e destroem países inteiros.
A retórica norte-americana é uma farsa bem ensaiada: falam em missões de paz e intervenções humanitárias, mas o que sempre deixam para trás são destruições, caos, massacres e pilhagem econômica. Essa é a verdadeira face do chamado “excepcionalismo americano”.
A América Latina é o palco onde esse imperialismo se manifesta com mais crueldade e impunidade. Desde o século XX, os EUA derrubaram governos eleitos democraticamente, como o de Salvador Allende, no Chile, para garantir ditaduras que servissem aos seus interesses. No Brasil, apoiaram o golpe de 1964, mascarando sua interferência com o discurso vazio de “proteger a democracia”, enquanto na verdade protegiam seus próprios lucros e influência na região. Documentos desclassificados deixam claro que os norte-americanos tinham total consciência da violência e do retrocesso que estavam ajudando a instaurar.
Essa postura não passa de um delírio de grandeza travestido de destino manifesto. Os EUA se colocam acima das leis internacionais, ignorando tratados e convenções sempre que lhes convém, como se o mundo fosse seu quintal particular.
Enquanto isso, os problemas reais dos próprios Estados Unidos são ignorados. Desigualdade social brutal, violência armada desenfreada, racismo estrutural, um sistema de saúde falido e uma polarização política que ameaça o próprio tecido democrático do país, são questões que deveriam merecer atenção prioritária. Antes de sair por aí “salvando” o mundo, seria prudente cuidar da própria pátria.
A experiência mostra que onde os EUA entram, a situação piora. No Afeganistão, após duas décadas e trilhões de dólares investidos, o Talibã retomou o poder assim que os militares partiram. Na Líbia, a destruição promovida pela queda de Gaddafi, apoiada pelos americanos, transformou o país em um caos absoluto, palco do tráfico humano e do terrorismo. Em todos os lugares, o padrão é o mesmo: interferem, saqueiam o que interessa e abandonam nações em ruínas.
Esse intervencionismo não é um erro isolado ou uma ação benevolente equivocada, é um projeto consciente de dominação global, sustentado por uma ideologia arrogante que acredita estar acima das consequências e da justiça. É urgente acabar com essa ilusão do “salvador do mundo” e encarar os Estados Unidos pelo que realmente são em muitos contextos: uma potência que só piora os conflitos que alega controlar.
Os EUA precisam parar de se colocar como donos do planeta e começar a respeitar a soberania dos outros países. O mundo não quer mais um chefe autoritário, quer diálogo, respeito mútuo e o direito legítimo à autodeterminação de cada povo.
………………………………………
Rafaela Lopes, colaboradora do Café Literário, também escreve textos para outras editorias de Notibras