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Hora da derrocada

Planalto é invadido por baratas tontas após o Congresso derrubar IOF

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Autor/Imagem:
Marta Nobre - Foto Lula Marques

Foi num cochilo entre um cafezinho aguado e uma reunião esvaziada que o governo Lula 3 levou mais uma rasteira no Congresso. Desta vez, o golpe veio camuflado de tecnicalidade tributária, mas o veneno era político, com a Câmara e o Senado enterrando, com solenidade e um certo deboche, o IOF — aquele Imposto sobre Operações Financeiras que ninguém entende direito, mas que todo brasileiro sente no bolso.

O que parecia um ajuste pontual virou um manifesto silencioso: o Planalto perdeu o controle da pauta. E o Centrão, aquele polvo que governa sem assumir, deixou um recado claro, como quem diz “quem manda agora somos nós.”

No Palácio, o susto foi geral. Ministros esbaforidos tentavam explicar o inexplicável. Como é que uma medida de impacto fiscal foi pro chão sem que ninguém da base governista piscasse? A resposta, murmurada nos corredores de carpete cinza, doeu mais que a derrota. Afinal, é palpável a falta de articulação, falta de liderança, e, sobretudo, falta de medo do governo.

Barata tonta. Foi essa a imagem que circulou entre deputados e senadores quando se falou da reação presidencial. Correria sem direção, telefonemas desesperados, promessas lançadas ao vento. Mas ninguém ouviu — e quem ouviu, riu.

O Centrão, esse partido informal que responde apenas aos seus próprios interesses, farejou fraqueza e armou o bote. Mais do que a revogação do IOF, a mensagem foi política. Agora o governo não apita mais nem na mesa do cafezinho. Se não negociar de joelhos, não leva nem parabéns.

Hugo Mptta, presidente da Câmara, Lira, com sua diplomacia de leão de chácara, não precisou levantar a voz. O gesto foi mais eloquente, uma vez que se aprovou o que se quis, como se o Planalto fosse um espectador distraído. E Lula, que já presidiu um país em tempos de vacas gordas e maioria sólida, agora tenta governar com fiapos de alianças, costuradas com linha de pescar.

A base derrete. O MDB, o União Brasil, e até os risonhos pedetistas já falam em “reavaliar apoios”. Tradução: querem mais verbas, mais cargos, mais poder — ou não garantem nem o quórum. O governo, encurralado, tenta reagir com discursos, enquanto os adversários jogam xadrez com granadas.

E as consequências? Além do rombo nas contas e da instabilidade fiscal, há um efeito mais corrosivo. É o cheiro de fim de festa. Aquelas reuniões sorridentes com líderes aliados agora parecem jantares de velório. O governo, desidratado politicamente, já não pauta, não lidera, e — pior — não mete medo.

Lula, veterano das guerras de plenário, assiste ao início de um motim silencioso. Não é golpe. É desinteresse. A ingovernabilidade, quando chega, não bate à porta com tanques. Ela se insinua com votos silenciosos, derrotas pontuais e sorrisos cínicos.

A barata tonta do Planalto ainda cambaleia. Mas se continuar nesse ritmo, vai acabar pisada — não por adversários declarados, mas por seus próprios “aliados”.

Para se der ideia da crise reinante, no plenário da Câmara, onde a lógica se rende ao fisiologismo e os acordos valem o tempo de um cafezinho requentado, o Imposto sobre Operações Financeiras — o IOF — caiu com um baque surdo. O estalo, porém, ecoou nos corredores do Planalto como se fosse tiro. E lá estava eles, assessores palacianos, andando em círculos no terceiro andar do Palácio, murmurando que “tiraram o IOF sem nem perguntar… Isso não é Congresso, é curral”, numa suposta referência ao ‘gado’ bolsonarista.

A deputada Gleisi Hoffman, transformada em articuladora política por obra de uma cota obscura do próprio PT, fazia ligações frenéticas: “Alô? Deputado? Ainda tá com a gente? Não?! Como assim “decidiu pensar no futuro do país”? Que futuro é esse sem emenda?! Gleisi desligava e berrava com o secretário:

— Manda um caminhão de retroescavadeira pro reduto dele, rápido! Antes que ele mude de novo!

Do outro lado da Praça dos Três Poderes, o presidente da Câmara, mais conhecido como “Centrão em Pessoa”, abria uma Coca-cola zero e brindava com seus pares:

— Derrubamos o IOF. E nem precisei levantar da cadeira.

— O Planalto tá mole, Presidente — comentou um parlamentar do União, dono de gabinetes na Esplanada dos Ministérios.

— Mole? — respondeu Hugo Motta. — O Planalto tá é oco. Só não percebe quem ainda acredita em nota oficial.

No Senado, uma senadora que virou símbolo da “nova política” por ter deixado a máquina de costura em troca do orçamento secreto, resumiu assim o quadro: “Esse governo fala bonito, mas não distribui direito. A base tá passando fome de emenda. E sem emenda, meu filho, até santo troca de lado”.

Enquanto isso, Lula, ou melhor, o Velho Pajé do Sertão, reunia seu conselho tribal no Alvorada. Olhava o fogo simbólico da lareira artificial e dizia:

— Tão matando o governo com palavras doces e facadas sorrateiras. O pior inimigo é o aliado cansado.

Mas quem prestava atenção? O ministro Sidônio Palmeira, que jogou pimenta no lixo para fazer nada com coisa alguma, apenas respondia com enigmas:

— Presidente, o Centrão é como siri em lata: se abrir, vaza; se fechar, te belisca. O senhor precisa mais de anzol que de discurso.

A verdade? O IOF foi só a primeira peça. O Centrão farejou sangue, e agora ronda o Palácio como urubu político em busca de ossada. O governo, perdido entre cargos prometidos e promessas descumpridas, tropeça nas próprias narrativas. O pior é que, a cada rasteira que eu leva, Lula, andando em círculos como cachorro sarnento querendo morder o próprio rabo, começa a desconfiar, sabe-se lá sob o efeito de quê, é que o tapete e que anda.

E a barata tonta continua, sem saber se corre, se voa, ou se entrega-se de vez à chinelada.

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Marta Nobre é Editora Executiva de Notibras

 

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