Colagens
O estranho caso da traição que colocou a cama e a faca assassinas na cadeia
Publicado
em
(1969) Tio Neto tinha sacadas inesquecíveis.
“Beto, toda cidadezinha tem um padre, um delegado, um corno e um louco”.
Pois, então. O tio não seria, hoje, politicamente correto, mas com razão de observação.
Bateu a lembrança do delegado Octávio, Tupã, Alta Paulista, SP.
Final dos anos 1960, em plena ditadura AI-5, 1968.
Suspeito de ter matado com uma faca a amásia Etelvina, Honório, o cara mais manso e pacato da cidade, foi levado ao delegado.
– O que aconteceu, Honório?, perguntou dr. Octávio.
– Cheguei no barraco e ela estava na cama com o Andrezão. Ele pulou a janela e eu tropecei no pé da cama e caí com a faca na barriga dela.
Andrezão era a figura mais carimbada do pequeno vilarejo. Mulherengo, não respeitava nada e tratava as mulheres como coisa “que nasceu pra ficar com as pernas abertas”.
Dr. Octávio mandou trancafiar o Honório.
Passados os dias, a cidadezinha fervendo, o delegado tomou uma atitude que marcaria para sempre a história do lugar:
“Cabo Genésio, solta o Honório e prenda a cama em que ele tropeçou e a faca, a verdadeira assassina dos fatos. Depois ache o Andrezão e me traga o bandido aqui.”
Depois de anos, eu já adulto, ainda questionava meu tio Neto sobre o caso.
O tio jamais desmentiu os fatos e eu segui tentando compreender a justiça dos homens em contraste com a prática real do viver.
O “heróico” delegado nunca soube, mas a sua fogosa esposa, Matilda, o traía com o vigário Carmelo, no Colégio Dom Bosco.
Toda cidade conhecia: Dr. Octávio, o corno-bravo. E Honório, o corno-calmo. Esse morreria anos depois picado por uma cobra jaracuçu quando limpava pés de café numa pequena fazenda da região paulista.